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OPINIÃO Quarta-feira, 06 de Janeiro de 2016, 10:42 - A | A

06 de Janeiro de 2016, 10h:42 - A | A

OPINIÃO / MARCOS COELHO

A necessidade da cultura de paz

A OAB entende que armas devem ser utilizadas pelos órgãos de segurança, não pelos particulares

MARCOS COELHO



Atualmente, qualquer cidadão pode requisitar autorização para possuir uma arma e, depois, para andar armado – mas é muito difícil de obtê-las. É assim que deve ser.

Lamentavelmente, uma comissão especial da Câmara dos Deputados aprovou, recentemente, o texto inicial de uma proposta que pode representar o fim do Estatuto do Desarmamento, caso seja bem sucedido nas próximas etapas da tramitação legislativa.

O projeto autoriza o porte de armas para membros do Poder Legislativo e para a polícia legislativa.

O projeto também possibilita a compra de arma pelos que respondem a inquérito policial ou a processo criminal e reduz de 25 para 21 anos a idade mínima exigida para que alguém compre armas e munições.

É preciso tratar com mais cautela e reflexão um tema tão sensível. Armas devem ser utilizadas pelos órgãos de segurança, não pelos particulares nem tampouco por categorias profissionais isoladas.

Corremos o risco de ver criadas novas milícias atuando de forma concorrente às forças do Estado – que, infelizmente, têm protagonizado casos sucessivos de abuso contra a população.

Não precisamos aumentar a dose de violência. O cidadão comum é que fica sob a linha de fogo.

A OAB é contra que advogados ganhem o direito de andar armados pelo fato de terem essa condição profissional.

Para a equiparação com outras categorias, como a dos integrantes da magistratura e do Ministério Público, o correto seria retirar a autorização automática que os juízes e procuradores têm para portar armas. É preciso analisar cada requisição caso a caso.

O respeito e o fortalecimento das instituições é o caminho correto para lidar com os problemas vividos por nosso país.

A cultura de paz precisa ser fortalecida. Há momentos em que esses ideais precisam ser reforçados.

O Brasil, assim como o restante do mundo ocidental, viu-se surpreendido e atingido pelos bárbaros atentados praticados contra Paris – até porque cidadãos brasileiros foram feridos a bala na capital francesa.

Temos uma oportunidade, agora, de reagir de acordo com os valores do Estado Democrático de Direito. Um dos debates que se faz, neste momento, na Europa, é justamente sobre restringir ainda mais o porte e o comércio de armas. Como o Brasil vai se colocar nessa discussão?

Nos Estados Unidos, o presidente Barack Obama também está engajado em endurecer as regras de acesso às armas, uma empreitada que provoca desgaste político para ele, tendo em vista o quão forte é o lobby da indústria armamentista nos EUA.

Obama, após se pronunciar repetidas vezes a respeito de massacres cometidos por pessoas empunhando armas de fogo, sugeriu comparar o número de assassinados em tais eventos e em atentados terroristas.

O número de mortos nos massacres é 40 vezes maior do que os mortos nos atentados.

O responsável pelo combate à criminalidade é o Estado e não o cidadão, sob pena de riscarmos nossa Constituição em um retrocesso à guerra de todos contra todos.

Não há como aceitar, desse modo tão irrefletido, o argumento de que o acesso à arma de fogo resolverá o problema de insegurança vivido por um indivíduo e sua família ou que o acesso à arma levará tranquilidade a uma comunidade.

São falsas sensações de paz essas.

MARCUS VINÍCIUS FURTADO COÊLHO é advogado e presidente nacional da OAB.

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