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JUSTIÇA Terça-feira, 20 de Setembro de 2016, 16:18 - A | A

20 de Setembro de 2016, 16h:18 - A | A

JUSTIÇA / CASTELO DE AREIA

Vítima diz que perdeu tudo e sofre ameaças de agiotas

Empresário de Tangará da Serra acusa ex-presidente da Câmara por prejuízos e contratempos

JAD LARANJEIRA
DA REDAÇÃO



O empresário Edson Vieira dos Santos, de 49 anos, dono da empresa Criativa Construções, afirmou em entrevista coletiva na manhã desta terça-feira (20), em Cuiabá, que perdeu tudo que construiu em 20 anos e vem sofrendo ameaças de agiotas por causa do golpe que lhe foi supostamente aplicado pelo ex-presidente da Câmara de Cuiabá, João Emanuel, e seu irmão, o advogado Lázaro Roberto.

Edson, morador de Tangará da Serra, é uma das vítimas da empresa Soy Group – alvo de investigação na Operação Castelo de Areia, que resultou na prisão de cinco pessoas no mês de agosto pela Polícia Civil.

O empresário, que optou por não mostrar o rosto durante a coletiva, afirma estar sendo constantemente ameaçado por agiotas por causa de 40 folhas de cheque que emitiu durante a negociação, totalizando um valor de R$ 50,5 milhões. Ele teria sido a vítima mais prejudicada pelos golpes.

De acordo com a Polícia Civil, “o cabeça” da organização criminosa seria João Emanuel, que chegou a ficar em prisão domiciliar, mas acabou tendo a prisão preventiva decreta por conta de outra operação na qual também era investigado.

Foram presos também pela suspeita de participação no esquema: Shirlei Aparecida Matsuoka, sócia majoritária da empresa; Walter Dias Magalhães Júnior (marido de Shirlei), presidente do Grupo Soy; Evandro Goulart, diretor financeiro; e o empresário Marcelo de Melo Costa, suposto "lobista" do esquema.

Durante a operação, o advogado Lázaro foi alvo de mandado de condução coercitiva.

Edson dos Santos conta que só percebeu que se tratava de um golpe quando João Emanuel e Lázaro deixaram de atender suas ligações. Neste momento, ele sustou os cheques que havia emitido.

Porém, mesmo com a providência junto ao banco, a vítima afirma que não evitou as constantes ameaças e ligações de empresários para quem os irmãos teriam repassado as folhas.

Isso é uma baita mentira. Ele se apresentou para mim de outra maneira, afirmando ser o presidente da empresa. Eu não acredito que esteja passando fome

Edson buscou a mídia, segundo ele, devido a publicações na imprensa de queixas da família de João Emanuel dando conta de que não tem dinheiro "nem para comer".

“Isso é uma baita mentira. Ele se apresentou para mim de outra maneira, afirmando ser o presidente da empresa, com o Lázaro junto dele. Então eu não acredito que ele esteja passando fome. O pai é um juiz aposentando”.

“Eu perdi tudo que tinha, minha empresa está aberta, mas faz nove meses que não tenho clientes. Eu estou tentando revivê-la, mas não consigo contrato com ninguém. Foram 20 anos de trabalho jogados fora”, disse Edson.

O empresário afirma estar extremamente “abalado” com a situação e diz que, antes de João Emanuel o procurar, nunca tinha ouvido falar que ele já era alvo de investigações por desvio de dinheiro público.

A advogada do empresário, Fabianie Martins Mattos Limoeiro, disse que João Emanuel e o irmão foram "certeiros e sabiam o que queriam da vítima" quando a escolheram.

“Eles sabiam que a empresa estava há vinte anos no mercado, tinha cadastro limpo, não tinha protesto em seu nome. Por causa dos cheques, teve a conta de 20 anos no Banco Itaú encerrada e hoje está está sendo sustentado pelo filho. Ele perdeu carros, motos, perdeu a empresa de 20 anos, perdeu uma vida por conta desse estelionato”, relatou.

O golpe

De acordo com Edson, foram feitas pelo menos cinco reuniões até a assinatura do contrato.

Segundo ele, foi João Emanuel quem comandou as negociações e apresentou uma proposta de um investimento em três empreendimentos, sendo dois no Amazonas e um em Cuiabá, prometendo dessa forma um retorno de mais de R$ 170 milhões, caso disponibilizasse as 40 folhas de cheque.

Convencido, Edson diz que foi feito um contrato, em que uma das principais cláusulas seria que se o Grupo Soy não depositasse o dinheiro na conta dele três dias antes de vencer cada cheque, ele poderia sustá-lo.

Como dito, não foi depositado o dinheiro e o empresário, além de sustar todos os cheques, registrou um boletim de ocorrência por extravio e roubo, ao perceber que havia caído num golpe.

Falso Chinês

Ainda na tentativa de enganá-lo, diz Santos, o ex-vereador apresentou um falso chinês, identificado como Mauro Chen Guo Qin, como sendo dono do Banco China.

Como Edson não fala chinês, quem traduzia o idioma era o próprio João Emanuel, afirmando e tentando convencer a vítima de que ele investiria em outros empreendimentos com a empresa dele.

Durante essa negociação com o falso chinês, João Emanuel e seu grupo afirmaram ter em mãos o valor de R$ 35 milhões.

O empresário conta ainda que, até então, não conhecia o dono do Grupo Soy, Walter Dias, mas que após várias tentativas sem sucesso de saber como ficaria a sua situação, decidiu procurá-lo.

Marcus Mesquita/MidiaNews

João Emanuel

De acordo com a Polícia, “o cabeça” da organização criminosa seria João Emanuel

“Eu procuri o Walter e fui maltratado após tentar conversar com ele, para ver como ficaria minha situação. O Evandro [Goulart, também indiciado], que trabalha com ele, também ficou me humilhando por uma semana. Depois disso, o Walter me mandou um áudio no Whatsapp com ameaças”, contou.

Operação Castelo de Areia

A operação Castelo de Areia foi deflagrada no dia 26 de agosto pela Polícia Civil, que apura crimes de estelionato supostamente praticados pela empresa Grupo Soy em todo o Estado.

 As vítimas eram pessoas com poder aquisitivo alto, como produtores rurais, empreiteiros e empresários.

O inquérito policial foi concluído no dia 1° de setembro pela Delegacia Regional de Cuiabá, em parceria com a Delegacia de Gerência de Combate ao Crime Organizado (GCCO). O relatório afirma que a empresa Soy foi criada no começo de 2015 por João Emanuel. Ele teria chamado o pai e o irmão para participarem do esquema.

Conforme o relatório, assim que os “diretores” conseguiam fazer com que o cliente realizasse o adiantamento, o dinheiro era rapidamente dividido entre eles.

“O grupo agia da forma que assim que recebiam os adiantamentos pedidos das vítimas, essa quantia era imediatamente repassada às contas bancárias do grupo e, em seguida, era rapidamente dividida entre João Emanuel, Lázaro, Irênio e os demais envolvidos no esquema", diz trecho do relatório.

Durante depoimento à polícia, João Emanuel e Lázaro optaram por permanecer em silêncio.

Leia mais sobre o assunto:

"Nós fomos vítimas desse canalha do Walter", diz advogado

Pai e irmão de ex-vereador faziam parte de esquema, diz Polícia

"É só a ponta do iceberg" diz delegado sobre investigação 

Polícia Civil prende cinco acusados de golpes de R$ 50 milhões 

Veja quem são os alvos da Polícia Civil acusados de estelionato

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