LUCAS RODRIGUES
DA REDAÇÃO
O ex-secretário de Estado e médico Filinto Corrêa da Costa admitiu, em depoimento, que pagou R$ 2,5 milhões ao seu cunhado, o ex-procurador do Estado Francisco Gomes de Andrade Lima Filho, o “Chico Lima”, por meio de 60 cheques, após ter recebido do Estado o valor de R$ 7 milhões, pela venda de uma área de sua propriedade, no Manso.
Os valores dos cheques variavam de R$ 30 mil a R$ 100 mil. A revelação foi feita ao Gaeco, no dia 29 de maio passado.
Em depoimento anterior, dado em fevereiro, Filinto Corrêa havia negado qualquer tratativa ilícita na negociação. As investigações fazem parte da Operação Seven.
Os R$ 2,5 milhões seriam destinados ao pagamento de propina aos membros do grupo investigado na Operação Seven, como os ex-secretários de Estado Pedro Nadaf e Marcel de Cursi.
Dentre esses 60 cheques, quase metade foi sacado ‘na boca do caixa’, pois recebeu diversas ligações dos funcionários do banco solicitando a confirmação da emissão desses cheques
O médico disse que protocolou na Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Sema) o pedido para ser indenizado por uma área de terra na região do Manso, uma vez que o lote estava inserido dentro do Parque Estadual Águas do Rio Cuiabá.
Pouco depois do protocolo, Filinto Corrêa relatou que pediu ajuda a Chico Lima e o cobrou diversas vezes sobre o andamento do requerimento feito na Sema.
“Após mais de um ano, quando então o interrogando havia perdido a esperança em receber algo do Estado, Chico Lima fez um contato com o interrogando informando que a Sema havia dado parecer técnico favorável”, disse, no depoimento.
Segundo Corrêa, logo após a publicação do decreto que recategorizou o Parque Estadual para Estação Ecológica – medida imprescindível para a venda do terreno -, Chico Lima foi até seu apartamento, no Bairro Goiabeiras, fazer a exigência de parte do valor que seria pago pelo Estado.
“Chico Lima, então, disse para o interrogando ‘o pessoal lá está pedindo R$ 2,5 milhões’, sem entrar em quaisquer detalhes’”, disse o médico ao promotor de Justiça Carlos Roberto Zarour César.
Entrega de cheques
Com a autorização da compra do terreno, o Estado pagou Filinto Corrêa em duas parcelas, de R$ 3,5 milhões cada, em 2014.
O médico contou que, no dia posterior ao pagamento da primeira quantia, 27 de novembro de 2014, Chico Lima foi até seu apartamento e “solicitou que emitisse diversos cheques, em torno de 30 cártulas, em valores que variavam entre R$ 30 mil e R$ 100 mil, que somados atingiram o montante de R$ 1,25 milhão”.
O mesmo procedimento, de acordo com Corrêa, teria ocorrido após o pagamento da segunda parcela de R$ 3,5 milhões, no dia 13 de dezembro do mesmo ano.
“Esses cheques foram preenchidos pelo próprio interrogando, ao portador, cujo beneficiário, a pedido do Chico Lima, ficou em branco; Dentre esses 60 cheques, quase metade deles foram sacados ‘na boca do caixa’, pois recebeu diversas ligações dos funcionários do banco solicitando a confirmação da emissão desses cheques”, afirmou.
Ainda em depoimento, Corrêa disse que os R$ 4,5 milhões restantes ele utilizou para pagamento de uma hipoteca de R$ 1 milhão, de dívidas com empresários e com seus filhos João Celestino e Filinto Júnior, além de aplicações na previdência privada.
No depoimento, ele se comprometeu a solicitar a microfilmagem de todos os cheques compensados em sua conta no período ora apurado, apresentando uma tabela desses pagamentos. Disse também que entregou todos os cheques na mão de Chico Lima - e não sabe dizer a quem ele teria entregado os cheques.
Veja fac-símile do depoimento de Filinto Corrêa:
Denúncia da Seven 2
Na primeira denúncia da Operação Seven, o Gaeco apurou suposto esquema que teve o intuito de autorizar o Intermat a comprar uma área rural de 727 hectares na região do Manso, que já pertenceria ao Estado e foi adquirida novamente de Filinto Corrêa, com preço superfaturado de R$ 4 milhões.
O valor pago pelo terreno, segundo o Gaeco, teria sido repartido entre os membros da alegada organização criminosa.
Desta primeira ação penal são réus: o ex-governador Silval Barbosa (PMDB); o ex-secretário-chefe da Casa Civil, Pedro Nadaf; o ex-secretário adjunto de Administração, José de Jesus Nunes Cordeiro; o ex-presidente do Intermat, Afonso Dalberto; o ex-procurador do Estado, Francisco Lima, o "Chico Lima"; o ex-secretário adjunto de Mudanças Climáticas, Wilson Pinheiro Taques; o ex-secretário de Planejamento, Arnaldo Alves de Souza Neto; o médico Filinto Corrêa da Costa; e os servidores da Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Francisval Akerley da Costa e Cláudio Takayuki Shida.
Já na 2ª denúncia da Seven, o Gaeco afirmou que os valores supostamente desviados foram maquiados para ocultar a origem ilícita.
Alguns dos cheques emitidos por Filinto Corrêa após receber o montante chegaram a ser usados, segundo o MPE, no custeio da posse do ex-governador Silval Barbosa (PMDB) e em parte da decoração de flores da posse do governador Pedro Taques (PSDB).
O médico Filinto Corrêa, de acordo com a denúncia, também teria tentado ocultar o montante por meio de aplicações em previdências privadas. Parte dos R$ 7 milhões também teria sido repassada aos filhos do médico (João Celestino e Filinto Júnior) e usada para a compra de uma BMW X6.
O Gaeco também rastreou a compra, por parte do procurador aposentado Chico Lima, de uma moto BMW modelo R 1200 GS branca, ano 2015/15. O veículo também teria sido adquirido com o dinheiro lucrado no esquema.
Em relação a Pedro Nadaf, o Gaeco afirmou que o ex-secretário chegou a simular a negociação de uma fazenda e a compra de um carro para ocultar a origem dos cheques emitidos pelo médico. Teriam participado destas tratativas o diretor do Sesc em Mato Grosso, Marcos Amorim da Silva, e os empresários Roberto Peregrino Morales Filho e Antônia Magna Batista da Rocha.
Já o ex-secretário Marcel de Cursi, segundo o Gaeco, teria utilizado a empresa de sua esposa Marnie de Almeida Cláudio (a M de A Claúdio EPP) para entregar três cheques ao ex-presidente da Metamat, João Justino Paes de Barros, para que este fizesse a troca por dinheiro.
Segundo o Gaeco, João Justino tinha o conhecimento da origem ilícita dos cheques, mas, mesmo assim, procurou o empresário André Luís Marques de Souza – do ramo de factoring - para realizar a troca, por meio do depósito dos cheques na empresa de Andre Luís.
O intuito, de acordo com a denúncia, seria movimentar os cheques de tal maneira que o dinheiro voltasse “limpo” a Cursi.
Ainda na denúncia, o Gaeco apontou que Afonso Dalberto e Luciano Amaral teriam feito operação financeira para ocultar a transferência de R$ 500 mil de Filinto Corrêa, relativa à suposta propina para que o ex-presidente do Intermat colaborasse com o alegado esquema.
Nesta segunda ação penal são réus: o médico Filinto Correa da Costa e seus dois filhos, o advogado João Celestino Correa da Costa Neto e o empresário Filinto Correa da Costa Junior; o procurador aposentado Francisco Gomes de Andrade Lima Filho, o “Chico Lima”; os ex-secretários de Estado Pedro Jamil Nadaf e Marcel Souza de Cursi; o ex-presidente do Intermat, Afonso Dalberto; o ex-presidente da Metamat, João Justino Paes de Barros; o diretor do Sesc em Mato Grosso, Marcos Amorim da Silva; o fazendeiro Roberto Peregrino Morales; e os empresários Luciano Cândido do Amaral, Antônia Magna Batista da Rocha e André Luiz Marques de Souza.
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