AIRTON MARQUES E LUCAS RODRIGUES
DA REDAÇÃO
O engenheiro eletricista Edezio Ferreira da Silva afirmou que, a pedido de Giovani Guizardi, dono da Dínamo Construtora, alugou uma sala comercial na Avenida Miguel Sutil, no bairro Santa Rosa, em Cuiabá, local que teria sido usado para reuniões “mais reservadas” do empresário.
A afirmação foi dada em depoimento prestado de forma espontânea aos promotores de Justiça do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), Carlos Roberto Zarour Cesar e Samuel Fringilo, no dia 13 de maio.
Que foi contratado por prazo determinado de seis meses, pelo valor mensal de R$ 15 mil. Que inicialmente começou trabalhando na sede da empresa Guizardi Júnior Construtora
Além disso, o engenheiro confirmou encontros do empresário com os ex-servidores da Secretaria de Estado de Educação (Seduc), Wander Luiz e Fábio Frigeri, apontados como os braços da organização criminosa na Secretaria.
Tanto o empresário quanto os servidores estão presos no Centro de Custódia da Capital desde o dia 3 de maio, e são réus em ação penal derivada da Operação Rêmora, que investiga suposto esquema que teria fraudado 23 licitações da Secretaria de Estado de Educação (Seduc), cujas obras estavam orçadas em R$ 56 milhões.
Edezio Silva contou, no depoimento, que em abril de 2015 foi contratado para prestar serviços técnicos de engenharia elétrica para a empresa Guizardi Junior Construtora, de Miguel Guizardi Júnior, pai do empresário alvo da operação.
“Que foi contratado por prazo determinado de seis meses, pelo valor mensal de R$ 15 mil. Que inicialmente começou trabalhando na sede da empresa Guizardi Júnior Construtora onde também se encontra sediada a empresa Dínamo Construtora”, disse o engenheiro.
Foi nesta oportunidade que, segundo Edezio Silva, ele conheceu Giovani Guizardi, acusado pelo Gaeco de ser o líder do esquema e responsável pela cobrança e recebimento das propinas.
O engenheiro afirmou que, em agosto de 2015, o empresário pediu que ele alugasse uma sala comercial em nome de sua empresa, a Edezio Ferreira da Silva EPP, para a realização de reuniões reservadas.
“Que então o declarante locou, em nome de sua empresa, uma sala comercial, situada na Avenida Miguel Sutil, bairro Santa Rosa, Cuiabá, e passou a dividir o espaço físico com Giovani Guizardi”, afirmou o engenheiro.
Edezio Silva também declarou que a sala foi alugada pelo valor de R$ 2,3 mil, mais condomínio. O engenheiro ficou de apresentar a cópia do contrato de locação aos promotores do Gaeco.
Reuniões
Segundo o engenheiro eletricista Edezio Silva, houve poucas reuniões na sala comercial alugada.
Ele revelou ter visto os ex-servidores da Seduc Wander Luiz dos Reis e Fábio Frigeri se reunindo com Guizardi no local.
Wander Reis e Fábio Frigeri também são acusados de serem, respectivamente, o operador e coordenador do suposto esquema em licitações de obras públicas na secretaria.
“Se recorda de ter visto a pessoa de Fábio Frigeri e Wander Luiz dos Reis, pelo menos umas três vezes no referido local, reunindo-se com Giovani. Que geralmente Fábio e Wander estavam juntos nestas reuniões, mas já chegou a ver Wander ir sozinho à reunião com Giovani”, relatou Edezio Silva.
O engenheiro garantiu que nunca participou das reuniões e, por isso, não sabe afirmar quais eram os assuntos tratados por eles nos encontros.
Se recorda de ter visto a pessoa de Fábio Frigeri e Wander Luiz dos Reis, pelo menos umas três vezes no referido local, reunindo-se com Giovani
Interesse em licitação
Em seguida, Edezio Silva afirmou que, em dezembro de 2015, Guizardi lhe pediu para fazer um levantamento de custos para “eventualmente” participar de uma licitação realizada pela Seduc no valor de R$ 20 milhões.
No entanto, conforme o engenheiro, a licitação foi suspensa e a empresa de Giovani, a Dínamo Construtora, não participou do certame.
“Que o declarante chegou a levantar custos de outras duas obras que iriam ocorrer na cidade de Rondonópolis, mas não sabe dizer se a empresa de Giovani participou delas”, declarou.
Fim do contrato
Por fim, Edezio Silva revelou que, por falta de uso, em fevereiro deste ano, ele acabou rescindindo o contrato de locação da sala no bairro Santa Rosa.
Além disso, declarou que, em 14 de março, foi informado pelo próprio Giovani Guizardi que o seu contrato de prestação de serviço com a Guizardi Júnior Construtora foi rescindido.
Edézio ainda disse que, desde a rescisão de seu contrato, não teve mais contato com Giovani Guizardi.
Questionado se o empresário tinha o costume de utilizar mais um aparelho telefônico móvel, ele afirmou que “já chegou a ver Giovani Guizardi com quatro celulares e que era muito difícil falar com ele”.
“Secretário de fato”
Na denúncia à Justiça, o Gaeco afirmou que Guizardi se apresentava como o “secretário de fato” da Secretaria de Estado de Educação (Seduc), quando, em tese, exigia propina de empreiteiros para liberar os pagamentos que a Pasta devia a eles.
A denúncia acusou 22 pessoas e apontou crimes de constituição de organização criminosa, formação de cartel, corrupção passiva e fraude a licitação.
A acusação foi protocolada nesta terça-feira na Vara Especializada em Combate ao Crime Organizado, Ordem Tributária e Econômica e Crimes contra a Administração Pública da Capital, encerrando a primeira fase da operação, desencadeada no dia 3 de maio.
De acordo com o Gaeco, levando-se em conta as imputações contidas na denúncia, as penas que poderão ser aplicadas aos empresários variam individualmente de 24 a 58 anos de reclusão.
Já Guizardi, acusado de ser o arrecadador de propina, Fábio Frigeri e Wander Luiz dos Reis poderão ser condenados entre 62 a 162 anos de reclusão.
O cálculo final levará em conta a quantidade de delitos praticados pelos denunciados de forma reiterada.
Consta na denúncia que Guizardi atuava na obtenção de informações privilegiadas na Secretaria de Estado de Educação, bem como na solicitação de vantagem indevida aos empreiteiros que tinham contratos na Secretaria.
Provas produzidas nos autos demonstram, ainda, que ele possuía grande poder de influência na Seduc e seu nome foi citado inúmeras vezes por servidores públicos, como sendo a pessoa que resolveria os entraves burocráticos dos empreiteiros que buscavam receber valores da execução dos contratos.
Segundo o coordenador do Gaeco, promotor Marco Aurélio de Castro, a denúncia demonstra “de forma cabal a estruturação criminosa do grupo que atuava para fraudar licitações e corromper servidores públicos. As investigações continuam no sentido de elucidação de outros fatos que chegaram ao conhecimento do Grupo Especializado”.
Veja fac-símile de trecho do depoimento do engenheiro eletricista, Edezio Silva:
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