AIRTON MARQUES E LUCAS RODRIGUES
DA REDAÇÃO
A servidora Marisol Castro Sodré, delatora da Operação Célula-Mãe, afirmou que a deputada estadual Janaína Riva (sem partido) e seu ex-marido Carlos Azóia, o "Nino", foram beneficiários do suposto esquema que teria desviado cerca de R$ 1,7 milhão na Assembleia Legislativa,entre 2011 e 2014.
Aos promotores de Justiça Marcos Bulhões e Samuel Frungilo, do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), a colaboradora afirmou que o primeiro marido da deputada Janaína Riva recebia R$ 4 mil por mês.

Algumas vezes, Maria Helena me entregava um envelope e dizia que era para a Janaina. Eu contava o dinheiro e era sempre o valor de R$ 4 mil
"Depois que eles se separaram, quem passou a receber este valor foi a Janaína", afirmou.
Em nota (leia a íntegra ao final da matéria), a deputada negou ter recebido os valores mencionados e adiantou que irá ingressar com uma ação judicial contra a delatora.
Marisol está sendo interrogada, na manhã desta sexta-feira (26), pela juíza Selma Arruda, da Vara Contra o Crime Organizado da Capital.
De 2005 a 2015, a delatora prestou serviços no gabinete do ex-deputado José Riva, pai de Janaína e acusado de liderar o estratagema que consistiria na emissão de notas frias para justificar os gastos com as verbas de suprimento - benefício extinto pela atual Mesa Diretora da Assembleia.
De acordo com Marisol Sodré, esses pagamentos duraram cerca de 3 anos. A delatora relatou que os valores eram entregues ao "Nino" em um envelope fornecido por ela ou pela servidora Maria Helena Caramelo.
Ao advogado George Andrade, que defende José Riva, Marisol Sodré disse que o mesmo procedimento era adotado para fazer os pagamentos à Janaína Riva.
"Algumas vezes, Maria Helena me entregava um envelope e dizia que era para a Janaina. Eu contava o dinheiro e era sempre o valor de R$ 4 mil", disse.
Lista apreendida
A delatora contou que era feito um controle dos beneficiários das verbas de suprimento desviadas. Essa tarefa, segundo ela, cabia à ex-chefe de gabinete de Riva, Maria Helena Caramelo, que foi presa preventivamente na operação, em outubro de 2015, junto com Riva e com os servidores Geraldo Lauro e Manoel Marques.
"Maria Helena fazia esse controle manualmente e me passava para digitar a prestação de contas", disse.
Durante a busca e apreensão do Gaeco, parte desse controle foi encontrado na casa de Marisol Sodré, armazenado em um pen drive. No documento, de acordo com a colaboradora, constavam os nomes de "Nino", que seria o ex-esposo de Janaína, e "Nina", identificada como sendo a própria deputada.
A citação da deputada surgiu após os promotores de Justiça questionarem Marisol Sodré sobre nomes que apareciam diversas vezes no relatório de pagamentos que estavam nas listas apreendidas.
Eles perguntaram à colaboradora quem era "Nino". "Era o primeiro marido da Janaína. Não sei o nome completo dele, mas era como ele é conhecido", afirmou Marisol.
Os promotores também questionaram quem era "Nina", cuja citação aparecia mais de uma vez na lista. "É a Janaina", respondeu Marisol Sodré.
Ao seu advogado, Ricardo Monteiro, a delatora alegou que na lista estava "Nino" e "Nina" ou "Ja", para que "outras pessoas não soubessem de quem se tratava. as únicas pessoas que sabiam eram Maria Helena e eu".
Ainda ao seu advogado, Marisol explicou sobre o fato de o relatório também constar as letras "MP". Ela disse que foi questionada no Gaeco sobre esta citação, mas que "não se recordou se era o pagamento para o Ministério Público ou para algum promotor".
Marisol entregou para a juíza Selma Arruda uma lista de prestação de contas escrita pela própria Maria Helena. Ela declarou que encontrou este documento em sua casa, ha dois dias.
Saque e repasses
Marisol ainda afirmou que os servidores do gabinete de Riva recebiam um memorando, iam ao banco com o seu documento e sacavam o dinheiro da verba de suprimento. Ela contou que o pagamento era nominal e que, após o saque, o dinheiro "vivo" era entregue para os chefes de gabinete.
"Cada saque era de R$ 4 mil para ser usado na área de serviços e mais R$ 4 mil que deveria ser destinado para compra de material", afirmou Marisol.
"Eu sacava esse valor e entregava para Maria Helena. Ela fazia os pagamentos que o deputado destinava. Eram demandas do gabinete, como assistencialismo, pagamento de formaturas", relatou.
De acordo com Marisol, Maria Helena Caramelo prestava contas ao deputado Riva sobre os gastos com as verbas. Em casos como pagamentos de formaturas era feito um recibo de pagamento que serviria para prestação de controle interno.

Quero ver ela provar que algum dia peguei um centavo sequer da Assembleia Legislativa. Nunca precisei disso, sempre tive os meus negócios
Destruição de documentos
No acordo de delação premiada com o Gaeco, de acordo com Marisol, ela entregou alguns recibos de valores que foram pagos com a verba de suprimento.
"Após o Ministério Público começar a investigar a questão e me intimar para prestar esclarecimentos, Maria Helena mandou eu levar os documentos para casa para destruir estes recibos de valores", revelou.
Porém, a delatora disse que não destruiu todos os arquivos.
"Graças a Deus que ficaram estes documentos, que comprovaram que não fui beneficiada com esse dinheiro", declarou Marisol.
Outro lado
A deputada estadual Janaina Riva (sem partido) afirmou que irá acionar na Justiça a servidora Marisol Castro Sodré, delatora da Operação Célula-Mãe.
Ela negou que tenha recebido qualquer valor da Assembleia Legislativa, antes de ser deputada, e disse que as declarações de Marisol soam como um “discurso orientado a fim de macular a sua imagem”.
Leia a íntegra da nota:
Sobre as declarações mentirosas prestadas em juízo na manhã desta sexta-feira pela ex-servidora da Assembleia Legislativa Marisol Sodré a respeito de suposto pagamento de verba de suprimento no valor R$ 4 mil à pessoa de Janaina Riva, filha do ex-deputado José Riva, a parlamentar vem a público esclarecer que nunca, em qualquer circunstância, sequer se reuniu sozinha essa servidora.
Mais ainda: nunca teve nenhum trato com ela e se recusou a é que não a aproveitá-la em sua equipe quando se elegeu deputada, a exemplo do que fez com alguns técnicos da equipe do seu pai. Segundo a deputada, essa acusação mentirosa soa como discurso orientado a fim de macular a sua imagem.
"Cabe a quem acusa o ônus da prova. Quero ver ela provar que algum dia peguei um centavo sequer da Assembleia Legislativa. Nunca precisei disso, sempre tive os meus negócios", disse ela ao afirmar que já acionou inclusive seus advogados para que tomem as medidas cabíveis com relação a tais declarações.
O advogado Rodrigo Mudrovisch anunciou que vai aciona-la civel e criminalmente.
"É assustador o nível rasteiro desse acordo de delação. A acusação é mentirosa e irresponsável. Vamos, de imediato, propor medidas judiciais cíveis e criminais contra essa delatora. Não há qualquer envolvimento da Deputada nos fatos discutidos na operação Metástase."
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