VINICIUS LEMOS
DO MIDIANEWS
O pastor da Assembleia de Deus de Várzea Grande que teria acobertado o assédio de um soldado da Polícia Militar a uma garota de 12 anos assinou termo circunstanciado pelo Ministério Público do Estado (MPE), por difamação e exposição de adolescente a vexame.
Conforme depoimentos dos familiares da garota, o pastor R.C. teria exposto, durante uma cerimônia religiosa, que a menor de idade trocava mensagens sexuais com seu genro, o militar F.O.S.
Os familiares da garota, atualmente com 13 anos, contaram que o soldado enviava vídeos e fotos de cunho sexual à menor.
De acordo com os depoimentos, após ficar ciente da situação, o pastor pediu que o caso não fosse levado à Polícia, pois seria resolvido dentro da própria instituição religiosa.
O líder religioso lavrou uma ata na igreja, onde determinou que o PM e a garota deveriam ficar afastados do local.
O rapaz deveria ficar 60 dias sem frequentar nenhuma cerimônia religiosa, e a garota deveria se ausentar durante 90 dias.
Também em depoimento à Polícia Civil, o padrasto da jovem afirmou que, no dia seguinte à assinatura da ata, o pastor contou a toda a igreja sobre o caso entre a garota e o suspeito.
Queremos justiça pelo pastor, que expôs a criança para toda a igreja. Ele usava o microfone para difamar a garota. Que tipo de pastor faz isso?
Em entrevista ao MidiaNews, o padrasto da garota, que pediu para não ser identificado, contou que a revelação do pastor gerou constrangimento a toda família e à adolescente.
“Queremos justiça, pois o pastor expôs a criança para toda a igreja. Ele usava o microfone para difamar a garota. Que tipo de pastor faz isso?”, questionou.
O militar, que teria assediado a menor, assinou termo circunstanciado pelo MPE por perturbação à tranquilidade. A família da jovem, porém, quer converter o caso para pedofilia.
“Queremos que o caso seja convertido para pedofilia, pois algo tem que ser feito. É uma situação que envolve uma menor de idade. Isso que aconteceu cabe como pedofilia, sim”, afirmou o padrasto.
A reportagem entrou em contato com o pastor, que afirmou que não estava em condições de comentar o caso.
O líder religioso limitou-se a dizer que, conforme a Bíblia, situações como essas devem ser tratadas "dentro da própria igreja".
De acordo com a assessoria de imprensa do MPE, os termos circunstanciados são utilizados em crimes de menor potencial ofensivo.
Assédio de PM
Em depoimento à Polícia, a menor contou que conheceu o policial na igreja, há dois anos. Na época, ele era noivo da atual esposa, filha do pastor.
Em fevereiro de 2014, após dois meses de casado, ele enviou a primeira mensagem à menor, dando "boa noite". Depois, o soldado passou a enviar outras mensagens.
"Certa vez, ele tentou lhe agarrar na cozinha de sua casa, estavam sozinhos, mas o sogro dele chegou e ele a largou", diz trecho do depoimento.
Apesar de receber inúmeros vídeos de cunho sexual do rapaz, ela nunca teria cedido aos pedidos dele para que também enviasse imagens de suas partes íntimas.
Porém, havia mandado imagens de sutiã e fotos de blusa e short.
Descoberta do caso
Conforme denúncia feita à Polícia, a família da garota frequentava uma unidade da igreja Assembleia de Deus, em Várzea Grande, local onde o militar atuava como líder de um grupo de jovens.
Um dos pastores da unidade é R.C, que é sogro do PM.
Bruno Cidade/MidiaNews
Delegacia da Mulher de Várzea Grande está cuidando do caso, após denúncia de familiares
Em depoimento à Delegacia Especializada de Defesa da Mulher de Várzea Grande, a mãe da garota relatou que o caso de assédio foi descoberto em março deste ano, após seu marido, padrasto da menina, utilizar o chip da enteada em seu próprio celular, pois o aparelho dela estava com problemas.
Após colocar o chip, um número desconhecido ligou para o telefone da garota. Ao atender a ligação, o padrasto alega que ouviu a voz de um homem, porém, não interagiu com a pessoa do outro lado da linha.
No dia seguinte, o padrasto ligou para o número desconhecido e reconheceu a voz do PM.
Ao questionar a enteada sobre a ligação que ela havia recebido, a garota contou que o policial estava ligando e mandando mensagens para ela, porém, sem detalhar o teor das conversas.
Conforme consta no depoimento, após o caso, o padrasto da garota contou que chamou F.O.S. e o pastor da igreja, sogro do militar, para conversar.
Durante o encontro, o rapaz teria admitido que mandou mensagens para a menor em um "momento de bobeira" e pediu desculpas.
Ainda conforme o depoimento, após conversar com o genro, o pastor teria conversado com a menor e pedido para que o assunto fosse encerrado, pois "se a filha descobrisse o caso, ela se separaria do PM".
Após esse episódio, a menor relatou à mãe que o oficial estava casado há dois meses, quando começou a lhe enviar mensagens e vídeos pornográficos.
Nas imagens que recebia do homem, a menor relata que ele se masturbava dentro da viatura de trabalho, no corredor da Polícia Militar e, até mesmo, dentro do banheiro da casa do pastor.
Corregedoria da PM
A mãe da garota denunciou o caso à Corregedoria da Polícia Militar de Mato Grosso, que está investigando a situação.
A conduta de F.O.S. será analisada pela PM, que definirá quais sanções poderão ser aplicadas ao militar, caso as investigações comprovem o assédio à menor de idade.
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