O GLOBO
Depois de passar 58 dias preso sob a acusação de ter estuprado três mulheres, o líder religioso Victor Bonato, de 29 anos, sustenta ter sido alvo de uma armação motivada por vingança. Solto em 16 de novembro de 2023, o influenciador evangélico acabou inocentado em julho de 2024. Em entrevista ao blog, ele admite que manteve relações sexuais com as jovens que o denunciaram, mas alega que todos os atos foram devidamente consentidos.
Após ganhar liberdade, Bonato interrompeu as atividades públicas e se afastou por cinco meses das redes sociais, onde chegou a somar cerca de 150 mil seguidores. O Galpão, movimento evangélico que liderava em Barueri (SP), deixou de existir. Os encontros às terças-feiras foram suspensos, e os líderes envolvidos se desvincularam após receberem ameaças.
Em setembro de 2023, três frequentadoras dos encontros religiosos que ele promovia procuraram a delegacia de Barueri para denunciá-lo por violência sexual. De acordo com os relatos, os episódios ocorreram em momentos distintos, entre junho e agosto daquele ano. As mulheres afirmaram que as relações, inicialmente consensuais, passaram a envolver práticas agressivas e não combinadas. Uma contou ter recebido tapas no rosto, outra relatou que foi forçada a sexo oral, e a terceira afirmou ter sido asfixiada durante o ato. Victor foi preso dias depois, enquanto participava de um retiro religioso, e permaneceu encarcerado por quase dois meses.
Victor foi inocentado em 29 de julho de 2024. Ao justificar a absolvição, o juiz Ricardo Augusto Gallego Bueno, da 2ª Vara Criminal da Comarca de Barueri, destacou a ausência de provas materiais e supostas contradições nos depoimentos, além do fato de que as denunciantes mantiveram contato com Victor mesmo após os episódios classificados por elas como agressivos. O Ministério Público também reconheceu que não havia elementos suficientes para sustentar a acusação.
De volta às redes sociais, Victor publicou um vídeo contando como teria caído numa armadilha. No relato, faz uma retrospectiva. Afirma que manteve relações sexuais com três amigas de forma sucessiva, em momentos diferentes, e que todos os encontros ocorreram de maneira consensual. Diz que os envolvimentos começaram a partir de conversas no Instagram e no WhatsApp, e evoluíram naturalmente. Ele detalha que se relacionou com a primeira jovem três vezes, depois com a segunda duas vezes, e, por fim, com a terceira, também três vezes. Todas, segundo ele, frequentavam o mesmo ambiente e sabiam da sua fama como líder religioso. “As garotas pertenciam ao mesmo círculo social. Elas estavam num evento quando descobriram que eu havia ficado com as três. Sentiram-se traídas. Desde então, se juntaram para se vingar. Foram até a delegacia e registraram uma falsa acusação de agressão e estupro”, argumentou Victor na entrevista ao GLOBO.
“As mulheres descobriram que, para destruir um homem, basta ir a uma delegacia e acusá-lo de estupro. Depois da condenação, ganham indenizações milionárias”, frisa a advogada Graciele Queiroz, que representou o influenciador no processo. A profissional se especializou em casos de homens que, segundo ela, são “acusados falsamento de estupro”. Ela integrou, por exemplo, a equipe de defesa do ex-jogador Daniel Alves, também absolvido no mês passado pelo Tribunal de Justiça da Catalunha, na Espanha. Assim como no caso de Victor, o juiz espanhol considerou que não havia provas suficientes para manter a condenação do ex-atleta em primeira instância.
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Durante o tempo em que esteve preso na Cadeia Pública de Carapicuíba, Região Metropolitana de São Paulo, Bonato ficou em uma cela de segurança com outros acusados de crimes sexuais. O espaço media cerca de três por quatro metros, sem janela, com goteiras, camas de concreto e um buraco no chão usado como sanitário. Não havia banho de sol, e os presos improvisavam uma cortina para garantir alguma privacidade. A rotina era limitada: café às 6h da manhã, almoço antes das 11h e jantar por volta das 16h. Victor lavava suas próprias roupas e usava sacos plásticos para desviar a água que caía do teto. Durante o período, não teve acesso a livros nem televisão. Ele conta que passou grande parte do tempo em silêncio, orando e tentando compreender o que estava vivendo. “No início, morria de medo de ser atacado, pois sempre me disseram que acusado de estupro não dura muito na prisão. Mas, na minha cela, só tinha homens respondendo pelo mesmo tipo de crime”, contou.
Desde que deixou a prisão, Victor tem buscado se reinventar longe dos holofotes. Passou a fazer acompanhamento psicológico e retomou práticas religiosas mais rigorosas, incluindo o voto de castidade. Segundo ele, a experiência o levou a reavaliar sua conduta e seus valores. Em 2024, evitou aparições públicas, focado em retiros espirituais e em atividades internas de sua nova igreja. Atualmente, está com uma namorada nova. A reconstrução, afirma, é um processo lento, centrado na fé e na tentativa de retomar a própria vida com discrição. “Eu fui imoral? Com certeza. Fui hipócrita ao viver algo que eu mesmo pregava contra. Eu errei? Errei, sim. Mas meu erro foi espiritual. Não cometi crimes. No tipo de vida que escolhi levar, fazer sexo fora do casamento é pecado. O pecado me custou a liberdade”, refletiu.
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