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POLÍTICA Terça-feira, 07 de Fevereiro de 2023, 12:07 - A | A

07 de Fevereiro de 2023, 12h:07 - A | A

POLÍTICA / INTERVENÇÃO SUSPENSA

Relatório aponta falta de medicamentos em Cuiabá na pandemia e risco de morte a pacientes

Em diversas comunicações internas, os médicos relataram que pacientes corriam risco de morrer pela falta de condições para o tratamento

MIKHAIL FAVALESSA
Da Redação



O relatório produzido pelo Gabinete de Intervenção do Estado na Saúde de Cuiabá aponta para a falta de medicamentos, em especial no Hospital Municipal de Cuiabá (HMC) durante a pandemia de Covid-19. A intervenção foi suspensa no começo de janeiro por decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

A intervenção foi coordenada pelo procurador do Estado Hugo Felipe Lima, nomeado pelo governador Mauro Mendes (União Brasil) para a função. O relatório, de 12 de janeiro, e agora tornado público, é assinado pela ex-secretária-adjunta de Estado de Saúde e integrante da equipe de intervenção, Danielle Pedroso Dias Carmona Bertucini.

Os interventores apontam que a Prefeitura de Cuiabá recebeu financiamento do Estado e do Ministério da Saúde para que o HMC fosse hospital de referência para a Covid-19.

"Porém, os gestores não garantiram o suprimento de medicamentos e insumos como preconizado pelas Portarias Ministeriais vigentes, o que prejudicou o atendimento e a evolução clínica dos pacientes do SUS que ali internaram", diz trecho do documento.

Comunicações internas, em especial dos profissionais das Unidades de Terapia Intensiva (UTI) pediátricas, revelam a falta de medicamentos e insumos entre 2020 e até o começo de janeiro, época da intervenção.

O primeiro relato é de 24 de junho de 2020. Havia falta de luvas e de medicamentos como "Bloqueadores musculares: Rocurônio, Vecurônio, Atracúrio; Drogas para sedoanalgesia: fentanil, cetamina; Broncodilatadores: Terbutalina ampolas; Drogas vasoativas: Noradrenalina e Dobutamina e Azitromicin".

Em 8 de agosto do mesmo ano, outra comunicação da UTI pediátrica pede com urgência o fornecimento do remédio Fenorbital endovenoso.

"A paciente T.G.G.F. de 3 meses de vida encontra-se internada na UTI Pediátrica em tratamento de COVID-19+ Pneumonia
aspirativa + Encefalopatia Hipoxica + Convulsão não controlada em uso de: Fenobarbital + Fenitoina. Hoje o Fenobarbital Endovenoso está em falta no hospital. Solicito providências urgentes para a compra da mesma imprescindível para a estabilização do quadro convulsivo da paciente", relata a equipe médica.

Os últimos dias se tornaram inviáveis em trabalhar, pois começamos a ver pacientes evoluindo graves pela ausência de medicação. O exemplo é a falta de albumina, atualmente paciente em pós-operatório com toracotomia com sepse e hipoalbuminemia importante, está sem receber medicação desde 30/03 na UTI 2, e ainda na UTI 1 temos cardiopata, anasarca evoluindo com piora renal e sem albumina na unidade, e essa mesma paciente está em uso de esquema antimicrobiano não recomendado devido ausência de antibiótico necessário no serviço

Há ainda apontamentos sobre problemas com a manutenção de equipamentos. Em 11 de março de 2021, a UTI pediátrica pede conserto urgente das incubadoras, justificada "pelo risco do desenvolvimento de hipotermia e bradicardia, representando perigo de morte e pela possibilidade de virmos a receber novos bebês de baixo peso corporal neste momento epidemiológico de aumento no nº de casos de Covid-19 na população".

Já em 25 de maio de 2021, o relatório traz a falta de medicamentos como Cefepime, Amicacina, Gentamicina, Piperacilina+Tazobactan, Aciclovir, e ainda insumos básicos como gaze estéril, álcool 70% e até esparadrapo e agulhas.

Os relatos da equipe médica seguem durante o ano de 2021, com falta de bomba de infusão, de medicamentos como Anitta, Losartana 50 mg, Floratil, Domperidona, carbamazepina, Nistatina, Dersani, Hidrogel, entre outros.

Em um dos casos, as médicas apontam que uma criança "em estado gravíssimo" precisava de "Metilprednisolona 30mg", uma medicação padronizada, e que não estava disponível.

Ofícios foram encaminhados pela própria equipe médica à prefeitura e ao Ministério Público, em dezembro de 2021, demonstrando a dificuldade de atuação e os riscos aos pacientes no HMC.

Em 6 de fevereiro de 2022, a demanda era por falta de "Albumina humana 20%", para tratamento de pacientes sob ventilação mecânica, com insuficiência renal aguda grave, e com risco de morte, segundo a equipe médica. Já em março do mesmo ano, três leitos de UTI foram desativados por falta de materiais para sua operação.

Mesmo com a queda no número de casos de Covid-19, a falta de material básico no hospital municipal continuou sendo relatada pelos médicos em comunicações internas, de acordo com o relatório da intervenção. Os leitos de Covid-19 foram convertidos em leitos UTI adulto e pediátricos convencionais.

"Mesmo com a reestruturação do hospital, que começou a atender o público em geral, inclusive retornando as atividades do centro cirúrgico e funcionando como hospital de retaguarda, a situação continuou crítica com a falta de insumos e medicamentos prejudicando a assistência aos pacientes do SUS, conforme constatados nos documentos oficiais com relatos dos profissionais", afirma o relatório.

Em 4 de abril de 2022, a equipe médica do hospital enviou o seguinte relato: "Os últimos dias se tornaram inviáveis em trabalhar, pois começamos a ver pacientes evoluindo graves pela ausência de medicação. O exemplo é a falta de albumina, atualmente paciente em pós-operatório com toracotomia com sepse e hipoalbuminemia importante, está sem receber medicação desde 30/03 na UTI 2, e ainda na UTI 1 temos cardiopata, anasarca evoluindo com piora renal e sem albumina na unidade, e essa mesma paciente está em uso de esquema antimicrobiano não recomendado devido ausência de antibiótico necessário no serviço".

As comunicações internas seguem durante todo o ano de 2022, com falta de medicamentos e insumos, até o mês de novembro.

"No início de Janeiro de 2023, a Central de Abastecimento Farmacêutico do HPSMC encaminhou o relatório de posição de estoque, o que demonstra a falta de medicamentos e materiais considerados críticos, ou seja, itens necessários para os atendimentos de urgência dos pacientes internados que estão com estoque zerado, o que prejudica o atendimento,ocasionando a evolução do quadro clínico do paciente e podendo ocasionar a morte dos mesmos", registra o relatório.

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