CARLA REITA FARIA LEAL E CHRISLAYNE MORANDI
Em 2003 foi instituído pela Organização Mundial da Saúde (OMS) o dia mundial da prevenção ao suicídio, 10 de setembro, como uma forma de reforçar a importância dos cuidados com a saúde mental.
Já o Setembro Amarelo é uma campanha mundial de prevenção ao suicídio e da busca pelo fim do estigma com relação às doenças mentais. Sua instituição foi uma forma de amigos e familiares do jovem Mike Emme, que se suicidou em 1994, quando tinha apenas 17 anos, homenageá-lo e recordá-lo. Conhecido por suas habilidades mecânicas e por ajudar os vizinhos, Mike resgatou e reformou um Ford Mustang 1968 e o pintou de amarelo, daí a cor dada ao Programa Fita Amarela que depois se transformou na campanha Setembro Amarelo.
Dados da última grande pesquisa sobre o tema realizada pela Organização Mundial da Saúde em 2019 demonstravam que eram registrados mais de 700 mil suicídios em todo o mundo, isso sem contar com os episódios subnotificados, o que elevaria essa cifra para cerca de um milhão de casos anuais. No Brasil, os registros se aproximam de 14 mil casos por ano, ou seja, em média 38 pessoas cometem suicídio por dia, ainda com base nos números de 2019.
Segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria, muito embora os números estejam diminuindo no restante do mundo, nos países das Américas os números não param de aumentar, sendo que praticamente a totalidade dos suicídios estão relacionados às doenças mentais, principalmente àquelas não diagnosticadas ou não tratadas corretamente. Isto leva à conclusão de que a maioria destas tragédias poderiam ser evitadas se os pacientes tivessem acesso a mais informações sobre tais doenças e a tratamentos psiquiátricos de qualidade.
Deste modo, nesse mês de prevenção e de reforço dos cuidados com a saúde mental, também é necessário falar sobre as doenças mentais desencadeadas pelo ambiente de trabalho em desequilíbrio, já que a organização do trabalho é fator importante para a manutenção ou deterioração da saúde mental dos trabalhadores.
Conforme a Fundação Jorge Duprat Figueiredo, de Segurança e Medicina do Trabalho (FUNDACENTRO), ligada ao Ministério do Trabalho e Emprego, fatores como o “estresse, a pressão por resultados, as jornadas excessivas e a falta de reconhecimento são fatores que contribuem para o esgotamento mental, um problema que pode levar ao desenvolvimento de transtornos mentais, incluindo a depressão, ansiedade e, em casos extremos, ao suicídio”.
Mas, infelizmente, ainda existe o grande estigma no que diz respeito aos cuidados e aos diagnósticos das doenças mentais, havendo a necessidade de se discutir como o meio ambiente do trabalho desequilibrado pode afetar a saúde mental dos trabalhadores, fazendo desenvolver ou desencadeando e agravando doenças mentais pré-existentes.
Ademais, a epidemia de adoecimento mental que hoje se vivencia apresenta, como consequência, números alarmantes de afastamento de trabalhadores dos postos de serviço, sendo que o investimento em um ambiente de trabalho saudável tem, além da preservação da saúde mental do trabalhador, retorno econômico ao empregador e à sociedade.
A Convenção n.º 155 da OIT, que trata sobre a segurança e a saúde dos trabalhadores e o ambiente de trabalho, e a Recomendação n.º 164, fornecem uma estrutura legal para a proteção da saúde e da segurança dos trabalhadores e das trabalhadoras, porém, segundo o Atlas de Saúde Mental da OMS, apenas 35% dos países relataram ter programas nacionais para promoção e prevenção da saúde mental relacionada ao trabalho.
Em 2022, a Organização Mundial da Saúde e a Organização Internacional do Trabalho publicaram diretrizes globais e estratégias práticas relativas à saúde mental no trabalho e pediram que os países adotem ações concretas em prol dos trabalhadores.
As diretrizes apontam para o enfrentamento de riscos, como “cargas de trabalho pesadas, comportamentos negativos e outros fatores que criam angústia no trabalho”. De forma inédita, dentre outras medidas, a OMS recomendou treinamento dos gestores, para desenvolver a capacidade de prevenir ambientes de trabalho hostis que contribuam com o adoecimento dos obreiros.
Como o local de trabalho é onde uma pessoa passa maior parte de sua vida adulta, este ambiente amplifica as questões sociais que afetam a saúde mental, daí a importância de que as ações de prevenção e cuidados com a saúde mental não devem ser lembradas e instituídas pelas empresas apenas no Setembro Amarelo, mas sim o tempo todo.
Por fim, como anuncia o lema da campanha Setembro Amarelo de 2024: se precisar, peça ajuda!
*Essa coluna foi elaborada por Carla Reita Faria Leal e Chrislayne Karine Ferreira Lopes Morandi, integrantes do Grupo de Pesquisa sobre o meio ambiente do trabalho da UFMT, o GPMAT.
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