THAIZA ASSUNÇÃO
DA REDAÇÃO
O ex-secretário chefe da Casa Civil, Pedro Nadaf, solto desde a última segunda-feira (5) após quase um ano preso, colocou tornozeleira eletrônica na tarde desta quinta-feira (8), no Fórum da Capital.
O aparelho é uma das medidas cautelares que a juíza Selma Arruda, da Vara Contra o Crime Organizado da Capital, impôs para deixar o ex-secretário em liberdade. Nadaf estava preso desde setembro do ano passado, por conta da Operação Sodoma.
A magistrada soltou Nadaf por entender que ele, após confessar os crimes que cometeu, não representa mais perigo ao processo e à sociedade, pois “rompeu” com a organização criminosa que se formou dentro do Governo do Estado na gestão do ex-governador Silval Barbosa (PMDB).
Sorrindo, o ex-secretário não quis dar declarações à imprensa e também não deixou mostrar a tornozeleira eletrônica. Ele se limitou a responder apenas uma pergunta, dizendo que não vai se mudar para o Rio de Janeiro.
Nos bastidores, as informações davam conta de que após ser solto, Nadaf iria para a capital fluminense, onde se casaria com a ex-secretária da Junta Comercial de Mato Grosso, Narjara Bairros.
O advogado de Nadaf, Omar Khalil, entretanto, afirmou que seu cliente está muito abalado e que deve permanecer em Mato Grosso.
Além do aparelho, Nadaf não poderá manter contato com os réus e testemunhas do processo, nem se ausentar do País, além de não poder frequentar órgãos públicos estaduais.
Prisão
Nadaf foi preso no dia 17 de setembro do ano passado em decorrência da Operação Sodoma.
À época, ele foi levado para o Centro de Custódia de Cuiabá (CCC), onde permaneceu até abril deste ano quando foi transferido para a base do Serviço de Operações Especiais (SOE).
O ex-secretário responde a três ações penais no total, relativas à 1ª e 2ª fase da operação Sodoma e à Operação Seven.
Nadaf já havia conseguido liberdade das acusações da Sodoma I e Seven. O que mantinha o ex-secretário preso era a denúncia da Sodoma II, que investiga um suposto esquema que consistia na exigência de propina a empresários em troca da manutenção de contratos com o Estado.
A denúncia
Segundo a denúncia da Sodoma II, assinada pela promotora de Justiça Ana Cristina Bardusco, o grupo era dividido em várias ramificações e cada uma das ramificações possuía graus hierárquicos.
Silval Barbosa é apontado como o líder da organização, "responsável por articular e coordenar as ações dos demais integrantes". O grupo atuaria exigindo pagamento de propina para conceder incentivos fiscais e para manter contratos de empresas com o Governo do Estado.
Na divisão secundária figuram os ex-secretários de Estado Pedro Nadaf, Marcel de Cursi, Cezar Zílio e Pedro Elias; o ex-secretário adjunto de Administração, coronel José Jesus Nunes Cordeiro; o ex-chefe de gabinete de Silval, Sílvio Cézar Correa Araújo; o ex-procurador do Estado Francisco Lima; a ex-secretária de Nadaf na Fecomércio, Karla Cintra; e o filho de Silval, o médico e empresário Rodrigo Barbosa, além do ex-deputado José Riva e do ex-prefeito de Várzea Grande, Walace Guimarães.
Destes, Pedro Elias e Cézar Zílio firmaram acordo de colaboração premiada e só serão processados pela prática de organização criminosa.
“Os indícios apontam que a organização criminosa atuou de forma perene durante toda a gestão de Silval Barbosa, provocando prejuízo a toda a população mato-grossense, que até hoje arca com as consequências das ações criminosas de seus membros, frente ao sucateamento da máquina administrativa, ausência de investimento em infraestrutura, na saúde, segurança e educação pública, etc”, diz trecho da denúncia.
Já José Geraldo Riva foi denunciado após o depoimento do empresário Paulo Mischur, da empresa Consignum, alvo da 2ª fase da Sodoma.
Mischur relatou que pagou R$ 17,6 milhões ao grupo liderado por Silval e a José Riva para manter o contrato que tinha com o Estado.
O ajuste da propina, conforme a ação, teria sido feito com a ajuda do empresário Tiago Dorileo, que também é alvo da Operação Ararath, desencadeada pela Polícia Federal.
O grupo também teria exigido R$ 1 milhão da Zetra Soft, do empresário Fábio Drumond, para que a empresa passasse a gerenciar os empréstimos consignados dos servidores – tarefa então feita pela Consignum.
A tratativa, no entanto, acabou não sendo efetivada e o contrato – assim como as supostas propinas pagas para mantê-lo – continuou com a empresa de Mischur.
Também foi denunciado o servidor Bruno Sampaio Saldanha.
Ele teria exigido propina para fazer “vistas grossas” ao contrato do empresário Julio Tisuji, da empresa Webtech, que também confessou ter pago valores ao grupo criminoso.
Quanto ao prefeito cassado de Várzea Grande, Walace Guimarães, consta na denúncia que ele ofereceu R$ 1 milhão, em 2012, ao então secretário de Administração, César Zílio, para que o poder público pagasse valores a gráficas – por serviços inexistentes ou incompletos - no intuito de levantar dinheiro para quitar gastos de campanha.
Entre as gráficas estavam as de propriedade dos empresários Antonio Roni de Luz e Evandro Gustavo Pontes da Silva, igualmente denunciados.
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