ALLAN PEREIRA E LUCAS COENGA
Da Redação
Muitas das principais famílias tradicionais de Cuiabá e de Mato Grosso têm raízes na escravidão. Documentos públicos, relatos históricos e registros documentais disponíveis na Hemeroteca Digital mostram quem eram os homens poderosos, que subjugavam aos seus semelhantes em nome do poder econômico. Veja a lista completa no final da matéria.
A reportagem do Midiajur listou, através desses registros, alguns dos principais nomes desses proprietários de pessoas escravizadas. Entre eles está Francisco Corrêa da Costa, pai de Antônio Corrêa da Costa, presidente da província de Mato Grosso e pai de Pedro Celestino Corrêa da Costa.
No dia 3 de junho de 1864, Francisco Corrêa da Costa, mandou prender o escravizado Joaquim. O registro da prisão aparece no jornal A Imprensa de Cuyabá, na edição de 6 de junho de 1864. No mesmo ano, em dezembro, Corrêa da Costa mandou prender outro escravizado, de nome Estêvão, no dia 12 daquele mês.
Sobrenome conhecido entre os cuiabanos e que também consta na lista dos senhores de escravizados é a família Muller, do interventor Filinto Muller, senador da República e chefe da polícia política durante a ditadura de Getúlio Vargas.
Júlio Frederico Muller, pai de Filinto Muller, também consta em arquivos históricos como proprietário de escravizados. O pequeno "Manoel Valentin", de 14 anos, consta como doado para Júlio Muller em 22 de junho de 1888, logo após a abolição. O pequeno era filho de Lucinda, ex-escravizada de Francisca Corrêa da Costa. Manoel recebia, segundo o registro, uma importância mensal pelo trabalho.
A família Rondon também consta em anúncios de jornais da época, com pedidos para capturar pessoas escravizadas. Em um desses casos, o deputado provincial José da Silva Rondon pede, no dia 21 de abril de 1822, que alguém capture a escravizada "Martinha". O anúncio foi publicado no jornal A Província de Matto Grosso.
Entre 1 de abril a 5 de junho de 1891, José da Silva Rondon foi governador interino de Mato Grosso. A ligação de José Rondon com o marechal Cândido Rondon é tênue, uma vez que o marechal só adotou este sobrenome por conta do tio, Manoel Rodrigues da Silva Rondon, por quem foi criado após a morte do pai, Cândido Mariano da Silva.
A luta diária contra a escravidão
Os jornais mato-grossenses do século XIX mostram também que a história da escravidão no Estado é marcada por resistência, fugas, crimes e até morte.
Pelas notícias publicadas nos jornais, é possível notar que os escravizados, apesar dos riscos de serem açoitados, buscavam a fuga dos seus senhores de forma constante. O Midiajur encontrou diversos anúncios de donos de escravizados pedindo ajuda da população para a captura de sua posse, com forte teor depreciativo, em troca de recompensas.
Um exemplo é um anúncio publicado em 5 de outubro de 1863, no jornal O Mato Grosso, que pede ajuda para encontrar um homem escravizado de nome Roberto. O proprietário, um engenheiro chamado Francisco Jorge de Albuquerque Nunes, o descreve como um "creoulo alto, corpo regular, boa figura, gosta de beber cachaça, dançar e cantar". Ele ofereceu 50 mil réis como recompensa.
E há aqueles ainda que sucumbem pela angústia do modo de vida de escravizado. Em 10 de agosto de 1873, uma mulher escravizada se matou se jogando no poço da casa dos seus senhores, em razão dos "bárbaros castigos que lhe infrigia sua senhora", segundo a Província. O mesmo jornal aponta que era a quarta vez que os mesmos senhores perdiam um escravizado pelo suicídio.
Outro caso parecido é do escravizado chamado José, que se matou com um tiro de espingarda, depois de ser açoitado no dia 8 de novembro de 1863, segundo o jornal O Mato Grosso.
DONOS DE ESCRAVIZADOS EM CUYABÁ E MATTO GROSSO
Salvador da Costa Marques
Apolinario Alves da Costa
Joaquim Teixeira da Fonseca
Domingos Monteiro da Silva (Capitão)
Rafael Verlongieri
Barão de Aguapehy
Pedro Maná
Maria das Dores Siabra
André Gaudie Nunes
Antonio Pinho de Azevedo (Capitão)
Fernando Paes de Faria
José Luiz Rodrigues Fontes
João Bernardes de Andrade
Eduviges Correa de Campos
Antônio Thomé Ribeiro
Vicente Pereira Leite
Luiz Alves da Silva Carvalho
Mariana da Costa Freire
Demetrio Moreira Serra
Antonio dos Santos Nery
João Gualberto de Mattos (Coronel)
José Delgado Pontes
Antonio Paes de Couto
Maria Augusta de Albuquerque
Manoel Pereira da Silva Coelho
Francisco Paes (Tenente Coronel)
Manoel João de Miranda Sobrinho
Bartholomeo Gonçalvez de Queiroz
Belisário José Maria da Costa
Felix Miranda Rodrigues (Major)
Roseno Pinto de Sousa
Manoel Corrêa de Matos
Antônio Gomes da Costa
Josefa Paes
Maria Leite do Amaral
João da Costa Lima
Antônio de Miranda Bulhões
J. F. Pedrozo de Barros
André Gaudie Ley (Comendador)
J. da Silva Tavares (Capitão)
Antônio José Rodrigues
Antônio José Guimarães e Silva
Ignez Vieira
Maria Alves da Cunha
Luiz Monteiro de Aguiar
João Pacheco
João Paulo de Oliveira
Francisco F. da Silva Tavares
José Antônio Murtinho
Eusebio de Araújo Ramos
Albano de Sousa Osório (Tenente Coronel)
Anna Delfina do Sacramento
A.L. Brandão (Major)
Bernardina de Sousa e Oliveira
Francisco Corrêa da Costa
Manoel Corrêa da Costa
Anna Joaquina D’Arruda
J.J. do Couto (Capitão)
Ignacio Joze de Sampaio
José Leite Galvão
Izabel Nunes da Cunha
Ricardo José Rodrigues
Leopoldino Lino de Faria (Tenente Coronel)
Francisco Pereira de Moraes Jardim (Padre)
Antônio Antunes Galvão (Tenente Coronel)
Maria Innocencia de Brito Serra
Adão Gaudie Ley
Manoel Joaquim Teixeira
Manoel Joaquim Pereira
Felix Baptista Valois
Alexandre Pinto de Sousa
J.C. Metello (Major)
José Theodoro Moreira (Major)
Augusto Corrêa da Costa
Maria Leite de Mesquita
José Luiz de Oliveira Machado
Roza Maria de Oliveira Machado
Cândido José de Moraes
Leopoldina Gama e Silva
Luiz Manoel Rodrigues
Joaquim da Costa e Faria
João de Souza Neves (capitão)
Antônio Ribeiro do Prado
Bernardino José de França
João Capistrano Moreira Serra
João Baptista Ribeiro
Ana Claudina de Figueiredo
Manoel D'Oliveira Prado
Izabel D'Arruda Maciel
Rita de Campos Maciel
Marianna Corrêa de Couto
Joaquim de Sousa Moreira
José Eugênio Moreira Serra
Antônio da Costa Domingues (Tenente)
Joaquim D'Almeida Falcão
Sabino José de Mello (morador de Serra Acima)
Porfírio Gomes de Mello (Alferes)
José da Silva Rondon
João Cerqueira Caldas
Julio Müller
José de Arruda Botelho
Agostinho Leite Botelho
Saturnino [?] de Sant'Ana
Firmino Ferreira do Couto
Francisco da Costa Ribeiro
Licio de Campos
Maria Francisca de Campos
Carlos Augusto Addor
Manoel Maria de Figueiredo
Luiz Pedroso P. Barros
Maria Clara Leque
Nicola Verlangier
José Estevão da Silva Albugg
Miguel Angelo de Oliveira Pinto
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Alicia 21/11/2023
Achei perfeito comentarios da daniele e do adalberto !
Cristina Rondon 21/11/2023
Há expressões agressivas, ofensas e/ou denúncias sem provas. Queira, por gentileza, refazer o seu comentário
Laura Patrícia Cordeiro do Amaral Vailan 21/11/2023
Conhecer fatos é interessante o que fazer com esses fatos é a raiz das contendas. Todos somos descentes tanto dos negros e indígenas como de seus opressores mas cada um tem o poder de decidir se quer se sentir uma eterna vítima ou ir á luta de ser uma pessoa melhor do que seus antepassados. Se fizer um levantamento da genealogia de todos os que postaram comentários talvez não escape um que a cinco ou seis gerações anteriores tenham algum ancestral negro, indio, europeu e talvez um asiático (que tem miscigenado nas últimas três gerações). O racismo é estrutural e precisamos combater no nosso cotidiano, e o machismo também. Mas se dentro das casas e das famílias não acontece essa mudança vão querer que aconteça somente de fora para dentro? Na base da coerção somente? Se as pessoas observassem a Bíblia e conseguisse cumprir a parte que diz que devemos amar o próximo como a mós mesmos acabaria com as guerras.
Danilo 21/11/2023
Caro Adalberto dos Santos, bem vindo ao Séc. XXI. A vida é dura meu camarada. Ainda bem que a humanidade e nossa historia é dinâmica. Não dá para vivermos igual a 300 anos atrás. Tá na hora de aprender a conviver (respeito) com o diferente, aliás tem muita gente diferente e que bom. A luta está apenas começando, tem muita injustiça social neste percurso, do tão sonhado desenvolvimento econômico, que foi suprimida de contexto. O regime de escravidão foi e será uma das piores, pois nele não há opção para está parcela da população, simplesmente é obrigado a servir. É muito triste para nossa humanidade. Parabéns pela reportagem, isto precisa ser publicado mais vezes ao longo do ano, em diferentes mídias. Para que não esquecemos a origem das sociedades e suas cidades, em especial a nossa querida Cuiabá.
Danielle Herane 21/11/2023
Acho uma matéria desnecessária, tendenciosa, as ditas pessoas e famílias já estão mortas e enterradas. O que fizeram ou deixaram de fazer são personalíssimos às pessoas que assim fizeram à sua época, que assim eram praticadas. Os tempos mudaram, os costumes mudaram, ficar atribuindo isso hoje em dia às pessoas de certos nomes tempo depois e hoje em dia em nada mudará o rumo das coisas. Porque ficar revendo no passado os abusos cometidos não procuram resolver os que hoje estão ocorrendo na atualidade, como exemplo aborto de inocentes, abuso de crianças por pedófilos, a fome provocada por desgovernos que assaltam a mão armada o dinheiro do povo trabalhador? É uma tamanha hipocrisia e tentativa de distrair a atenção da população e querer colocar teses para favorecer certas pessoas mamadores do dinheiro público.
Jackson 21/11/2023
Grande Adalberto dos Santos , falou tudo!!! Parabéns!!!!
Gustavo 21/11/2023
Muito boa a matéria. História de Cuiabá/ Mato Grosso.
Adalberto dos Santos 20/11/2023
Já está insuportável esse mimimi de minoria e de escravidão. Não vejo ninguém falar da África onde negros milicianos de Senegal por exemplo ainda escravizam outros negros e mulheres. Claro, não vai de acordo com a ladainha da cartilha militante né? Agora vai chamar um militante negro aqui de preto por exemplo.. phta que p@riu.. faz um alarde enorme.. Essa geração frágil adoeceu e adoece todos as outras que estão vindo depois dela. Homens fracos, que ficam sentidinhos com qualquer zoeira. Não sabem fazer serviços básicos braçais, não tem força pra nada, não sabem se virar sozinhos, não tem proatividade e garra viril masculina. Mulheres que perderam sua feminilidade, que se portam como homens, que se confundem nas suas próprias querências, que querem sua independência através do menosprezo ao homem, alegando que TODO homem não presta, não conseguem ter uma vida feliz e chegam aos 35 anos toda escar@lhada na vida. Uma ou outra que fica independente financeiramente e pode bostejar o que quiser. A grande maioria está aí cheia de filhos de pais diferentes, sem perspectiva de vida, desempregada pedindo pensão de pai vagabfndo. Essa vitimização, excesso de direitos pra mulher, fraqueza masculina da garotada e ladainha de minoria está fpdendo com nossa geração. Vai demorar uns 100 anos pra começar a mudar.
Silva 20/11/2023
Historicamente nosso Estado tão pujante nasce das mãos escravas... Sempre bom esclarecer como se deram e quem foram / estiveram as raízes da escravidão nestes campos matogrossense... Muita gente de quilombos sobreviveram e foram a resistência... Cabe sim este relato para sempre esclarecer a memória e lembrança deste povo ainda tão racista ... Somos todos humanos???? ainda hoje sentimos estes efeitos de mais de 300 para 400 anos de escravidão... Precisamos ainda do mesmo tempo para reparar e garantir direitos e conquistas que ainda virão e será sempre com muitas lutas...
Le 20/11/2023
Concordo com Rô, pra que homenagear as pessoas, famílias que só causaram maus tratos aos semelhantes? Ignoraram que somos todas iguais?
Eva 20/11/2023
Quando fiz faculdade em Cuiabá trabalhei na casa de descendente de uma destas famílias. Eles se reuniam e contavam altas histórias. Mas, triste saber desta mancha no passado deles. Infelizmente, ter escravos era investimento.
Zé Augusto 20/11/2023
Sem dúvida a escravidão foi uma triste e infeliz realidade que existia no Brasil e em vários outros países. De outro lado, estou tentando entender quais são os objetivos dos redatores com uma reportagem como esta, trazendo uma lista de nomes de pessoas que viveram há dois séculos atrás. Seria incitar, indiretamente, a raiva, o ódio e a violência contra os descendentes das famílias tradicionais cuiabanas? Isso é que os Srs. redatores entendem como sendo uma legítima política de correção das desigualdades étnicas e socioeconômicas decorrentes desse triste período?
Rô 20/11/2023
Seria um bom começo de reparação histórica apagarem tais nomes das principais avenidas da cidade. Pra quê romantizar e perpetuar o histórico escravocrata?
13 comentários