DO COMPRE RURAL
A agenda ambiental e a crise de abastecimento de insumos serão fatores determinantes para o desempenho do agronegócio em 2022, segundo um estudo da BMJ Consultores Associados obtido pelo jornal Valor Econômico.
O comportamento do dólar, que deverá aumentar os custos de produção de uma forma geral, mas aliviar a conta dos exportadores, e o fator China também continuarão no radar, afirma a consultoria.
No estudo, a BMJ projeta a influência desses temas nos negócios do setor e nos preços dos produtos em 2022 e mostra que o campo precisará dar respostas às metas ambientais assumidas ao longo de 2021.
Segundo a consultoria, a pressão internacional para conter as importações associadas ao desmatamento ilegal será cada vez maior.
Leis em discussão no Reino Unido, União Europeia e Estados Unidos poderão afetar o comércio de algumas commodities brasileiras, como soja e carne.
Essa pressão só será reduzida se o Brasil apresentar melhoras nos índices de desmatamento, avalia a BMJ.
“Por mais que as metas e compromissos brasileiros assumidos neste ano tenham sido bem recebidos internacionalmente, o ponto-chave será uma demonstração de uma redução efetiva nas porcentagens de degradação e focos de incêndio”, diz a consultoria.
Outra vertente em expansão é a criação de mecanismos para taxação de carbono na fronteira.
Segundo a BMJ, as implicações mais diretas são no “travamento do processo de ratificação do Acordo entre Mercosul e União Europeia”, uma das maiores apostas do governo e, especialmente, do Ministério da Agricultura para expandir os negócios do setor.
“A reação da comunidade internacional em relação à política ambiental brasileira ainda será o maior driver desse risco devido aos possíveis impactos econômicos e financeiros advindos da imagem negativa no exterior”.
De olho no cenário econômico internacional, o CEO da BMJ, Wagner Parente, diz que o impacto do dólar alto no setor de exportação pode gerar um efeito multiplicador se o governo conseguir construir políticas públicas para atender segmentos mais afetados negativamente.
“Focando no agronegócio, um câmbio elevado pode permitir que custos mais elevados com fertilizantes sejam compensados com uma lucratividade maior do produto final exportado”, disse.
A incerteza com o abastecimento de insumos — não só agrícolas —, causada pela crise energética na China e por turbulências políticas e falta de combustíveis na Europa, aumenta as dúvidas para 2022 e o desequilíbrio no mercado, o que respinga no agronegócio.
“O caso brasileiro deve ser observado com cautela, dado que a China é a principal importadora de produtos nacionais. Uma crise econômica no país pode reduzir a demanda por produtos brasileiros e agravar a queda dos preços, principalmente de produtos primários, mercado que o Brasil possui protagonismo.”
A China mostra o poder de influência sobre a indústria nacional e a economia mundial.
“O Brasil enfrentaria um efeito pinça: exportadores observariam uma redução no preço internacional de produtos primários em razão da queda da demanda chinesa, e importadores um aumento no preço de produtos importados em razão do aumento dos custos internacionais”, afirma a BMJ.
O agronegócio não deve conseguir ficar alheio aos desdobramentos da tensão política nas eleições presidenciais nem aos riscos fiscais do país.
Mesmo com uma ligação estreita do setor com o atual governo, algumas pautas não avançaram e dificilmente serão aprovadas no último ano da atual gestão.
O levantamento da BMJ diz que ainda são pequenas as chances de os projetos que alteram as regras para a regularização fundiária e a demarcação de terras indígenas avançarem no Congresso Nacional.
A BMJ aposta que o presidente Jair Bolsonaro pode voltar a criticar os chineses para mobilizar seu eleitorado mais “ideológico”, mas a consultoria considera que não deverá haver grandes alterações na relação comercial dos países.
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