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GERAL Domingo, 17 de Julho de 2022, 08:06 - A | A

17 de Julho de 2022, 08h:06 - A | A

GERAL / SAÚDE MENTAL

Rotina de PM pode levar a ansiedade, depressão, vícios e até explicar violência policial

Psiquiatra ouvido pelo MidiaJur aponta que cotidiano de policial é estressante e contribui para o desenvolvimento de comportamentos de risco

ALLAN PEREIRA
Da Redação



A rotina estressante de um policial militar, aliado a um possível quadro de ansiedade e/ou depressão, pode levá-lo a desenvolver compulsões, vícios, comportamentos de risco e até explicar a violência policial.

É o que afirma o psiquiatra Gleisson Oscar Libardi, que foi um dos palestrantes convidados para falar de saúde mental na Polícia Militar no XIV Encontro Nacional de Entidades Representativas de Praças “Base da Hierarquia Militar e suas Contribuições na Política Atual" entre esta quarta (13) e sexta (15), organizado pela Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar e Bombeiro Militar (ACS-PMBM/MT).

"Qualquer profissão pode impactar negativamente ou positivamente a saúde mental do indivíduo. Na atividade policial em si, sabemos que o indivíduo trabalha, além do perigo de vida constante, com situações do dia a dia que ele encontra o pior do comportamento humano. E eles têm que lidar com isso, muitas vezes, de uma forma mais enérgica, direta e, às vezes, precisando de uma atividade interpestiva", diz Gleisson em entrevista ao MidiaJur.

 

Arquivo Pessoal

Dr. Gleisson Libardi, psiquiatra

 Dr. Gleisson Libardi explica que rotina de policial militar estressante pode levar a quadros de ansiedade e comportamentos de risco.

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Evento reúne deputados e policiais militares em debate sobre política e saúde mental

Essa rotina, segundo o psiquiatra, faz com que o policial militar acione constantemente o mecanismo cerebral para o estresse.

"Isso acaba causando um desequilíbrio entre neurotransmissores cerebrais. Simplificando, você aumenta a área do estresse, e diminui a área do prazer. Então, o indivíduo começa a ficar mais irritado, com pensamento mais acelerado, dificuldade de concentração, dificuldade de sono, alteração de apetite, alteração do desejo sexual e, ao mesmo tempo, ele vai tendo menos prazer e empolgação com as  coisas da vida".

O psiquiatra segue explicando que esse desequilíbrio químico-cerebral causado pela rotina estressante pode desencadear sintomas de ansiedade e até depressão, como alteração no batimento cardíaco, respiração ofegante, tremores, formigamentos ou dores pelo corpo.

A rotina também pode levar os policias militares a desenvolveram compulsões ou vícios em comida, álcool, sexo, jogo e até em adrenalina.

"Também tem essa questão da pessoa viciada em sentir o coração acelerar e aquela gana por risco. A tendência, muitas vezes, é que se estiver numa posição hierárquica perante outro, se pode abusar dessa situação", diz.

Quem vai perceber nas suas reações que você não está bem? Então, acaba tendo um grande número de policiais com conflitos em casa. Eles acabam levando esse ambiente em que tudo tem que se resolver na força e na violência

O próprio psiquiatra, que tem um convênio com a ACS, aponta que é considerável o número de policiais pacientes em seu consultório e que o primeiro motivo que faz os agentes procurar ajuda de profissionais são por conta de conflitos conjugais em sua maioria.

"Quem vai perceber nas suas reações que você não está bem? Então, acaba tendo um grande número de policiais com conflitos em casa. Eles acabam levando esse ambiente em que tudo tem que se resolver na força e na violência. É uma bola de neve. São conflitos profissionais, em casa e na atividade que leva o policial a ter menos serenidade e com maior chance de cometer erros ou exageros", destaca.

Somente após os casos de conflitos conjugais é que aparece a insatisfação e o estresse com a rotina da profissão, segundo o psiquiatra.

Já para os casos de suicídio, o psiquatra Gleisson diz que não conhece muitos casos entre os policiais militares e que são maiores os casos de adoecimento psiquiátrico entre os agentes.

Mas nas duas situações (adoecimento mental e suicídio) pesa a situação de que o policial é uma pessoa em posse de uma arma de fogo 24 horas por dia.

Gleisson pontua que não há empresa ou órgão do poder público que consiga prevenir o adoecimento mental do trabalhador e dá algumas orientações para quando o agente precisa buscar ajuda.

"O que eu vou falar serve para qualquer profissão ou ser humano. Primeiro, você precisa buscar autoconhecimento. Entender qual o seu perfil comportamental, como isso interfere na sua rotina de forma benéfica ou maléfica e quanto suas necessidades emocionais custam a você. Vale a pena pagar esse preço? Ou, de repente, vale a pena você trabalhar essas necessidades emocionais? Uma dica que eu posso dar é que se você está insatisfeito com a sua rotina, gostaria de fazer algo diferente, mudar alguma coisa e não sabe bem o quê, procure uma avaliação com um psicólogo. Agora, se essa insatisfação está ao ponto de você está dormindo mal, tendo uma inconstância nos seus relacionamentos e dando muitos conflitos, procure um psiquiatra", recomenda.

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