ORLANDO MORAIS JR.
DA REDAÇÃO
O braço-direito e ex-chefe de gabinete do ex-governador Silval Barbosa (PMDB), Sílvio Cézar de Araújo Corrêa, recebeu mais de R$ 1,5 milhão entre os anos de 2010 e 2015. Desse total, R$ 424,3 mil foram relativos a salários. O restante, mais de R$ 1 milhão, é alvo de investigação pelo Grupo de Apoio ao Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e pela Delegacia Fazendária (Defaz).
As informações constam do relatório sobre a quebra do sigilo bancário de Sílvio Cézar elaborado pela Defaz. A quebra foi autorizada pela juíza Selma Rosane Arruda, da 7ª Vara Criminal de Cuiabá. O MidiaNews teve acesso ao documento.
Réu em ação criminal na Operação Sodoma e denunciado pelo Ministério Público em ação cível, Sílvio Cézar é acusado de integrar um esquema de fraude em licitações e de exigência de propina para conceder incentivos fiscais e contratos com o Governo do Estado na gestão de Silval Barbosa.
O ex-chefe de gabinete de Silval está preso no Centro de Custódia da Capital (CCC) e pode ser condenado a mais de 15 anos de prisão pelos crimes de organização criminosa, contra a administração pública e lavagem de dinheiro.
Na análise das contas de Sílvio Cézar no Bradesco e no Brasil chamou a atenção dos investigadores, além dos recebimentos quase quatro vezes superiores ao salário do
Ele tinha a tarefa de acompanhar, à distância, os pagamentos de vantagem indevida realizados diretamente a outros membros da organização criminosa
ex-chefe de Gabinete, o alto valor de depósitos em dinheiro.
Entre 2010 e 2015, foram R$ 265 mil em depósitos em dinheiro feitos pelo próprio Sílvio. “Dessa forma, ele dificultou a identificação da origem do dinheiro”, diz o relatório.
Sílvio também depositou dois cheques de R$ 150 mil cada um na conta da Faculdades Cathedral, pertencente à época a Wanderley Facheti Torres, o “Wanderley da Trimec”, investigado pela Polícia Federal na Operação Ararath.
Em delação premiada, o ex-secretário de Estado de Administração, Cesar Zílio, afirmou que o empresário Wanderley Torres, da Trimec Construções e Terraplanagem Ltda., seria o responsável por gerir o “caixa dois” da campanha de Silval Barbosa à reeleição, em 2010. Zílio disse que Wanderley Torres era o “braço financeiro” de Silval.
Os cheques emitidos por Sílvio acabaram sustados. Aliás, chamou a atenção dos investigadores a grande quantidade de cheques depositados por Sílvio e que acabaram sendo sustados pelos mais diversos motivos. Foram quase R$ 1,7 milhão em cheques devolvidos no período analisado.
No total, Sílvio Cézar, que segundo a promotora Ana Cristina Bardusco era o “fiscal de propinas do grupo criminoso chefiado por Silval”, recebeu R$ 680 mil em depósitos, R$ 360,8 mil em transferências e R$ 47,4 mil em cheques.
Em 4 novembro de 2010, Sílvio recebeu três transferências, totalizando R$ 13,8 mil, da empresa Souza e Nogueira Ltda, que tem como sócios Maurício Coelho de Souza e Marlon Richer Nogueira.
No dia 24 de novembro de 2010, foram duas transferências, de R$ 10 mil cada uma, da Todeschini Construções e Terraplanagem Ltda., dos sócios Waldir Todeschini e João Carlos Simoni.
Em 2 de maio de 2011, Sílvio recebeu quatro transferências, nenhuma delas excedendo R$ 10 mil, mas que juntas somaram R$ 35 mil, da Pontual Factoring. A empresa, segundo a Polícia, pertence a Ivana Paola de Jorgi e Maria Baesso.
Sílvio Cézar também recebeu, em 9 de novembro de 2012, R$ 16,3 mil da Rodobens Administradora de Consórcios, pertencente ao Banco Rodobens e inúmeros sócios.
Em março de 2013, Sílvio Cézar recebeu diversas transferências: foram R$ 20 mil da Soltur Turismo, cujos sócios são Aparecida Belussi Miranda e Francisco Belussi Miranda; R$ 22 mil da Vitória Materiais de Construção, pertencente a Ênio Augusto da Silva e Marilena Aparecida Ribeiro; R$ 25 mil da Garantia Assessoria de Cobrança, dos sócios Frederico Müller Coutinho e André Luiz Müller Coutinho.
Em dezembro de 2013, ele recebeu R$ 30 mil de Ademir Ribeiro de Souza. No mês seguinte, voltou a receber uma transferência de uma empresa de construção pertencente a Marilena Aparecida Ribeiro, no valor de R$ 31,6 mil.
Uma última transferência registrada no relatório da Defaz foi feita pela Panta Cosntrutora, de R$ 17 mil, em 26 de janeiro de 2015. A empresa pertence a Leandro Carvalho Maggi Scheffer e Paulo Victor Hidenobu Hashimoto Leite.
Segundo a promotora Ana Bardusco, caberia a Sílvio Cézar “a tarefa de acompanhar à distância os pagamentos de vantagem indevida, realizados diretamente a outros membros da organização criminosa” que teria se instalado dentro do Governo do Estado, afirmou ela.
De acordo com os investigadores da Defaz, algo pode ter ficado para o próprio Sílvio.
Outro lado
A reportagem tentou, mas não conseguiu contato com as pessoas citadas no relatório da Defaz.
O advogado de Sílvio Cézar, Victor Alípio Azevedo Borges, também não foi encontrado para comentar as movimentações financeiras de seu cliente.
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