LUCAS RODRIGUES E AIRTON MARQUES
DA REDAÇÃO
O empresário Frederico Muller Coutinho, um dos delatores da Operação Sodoma, contou que seu ex-sócio, Filinto Muller, trocou seis cheques assinados pelo também delator João Batista Rosa, no valor de R$ 83,3 mil cada um, e entregou o dinheiro – quase R$ 500 mil - ao ex-procurador do Estado Francisco Andrade de Lima Filho, o "Chico Lima".
A declaração foi dada na manhã desta segunda-feira (1º), durante audiência da ação penal derivada da operação.
Segundo Frederico Coutinho, parte do valor foi destinado a quitar débitos do próprio Chico Lima, entre 2012 e 2013.
“Alguns dos cheques foram usados para pagar dividas pessoais de Chico Lima, como cartão de crédito e compras parceladas de eletrodomésticos”, depôs Coutinho.
Alguns dos cheques foram usados para pagar dividas pessoais de Chico Lima, como cartão de crédito e compras parceladas de eletrodomésticos
Estes cheques, conforme a denúncia do Ministério Público Estadual, teriam sido emitidos por João Batista como parte do acordo de pagamento de propina ao grupo político de Silval Barbosa, também composto pelos ex-secretários de Estado Pedro Nadaf e Marcel de Cursi.
Na delação, João Batista confessou que, em troca da propina, conseguiu a inclusão de suas empresas no Prodeic, programa que concedia benefícios fiscais.
Durante a audiência, Frederico também relatou que soube, por meio de Filinto Muller, que Chico Lima prestava serviços ao grupo do então governador, agindo como intermediário nas negociações com empresários.
“Chico Lima era quem dava suporte ao ex-governador Silval, era quem transformava cheques em dinheiro”, relatou.
O empresário ainda disse que um dos depósitos dos cheques descontados, no valor de R$ 25 mil, teve como destinatário Silvio César Araújo, ex-chefe de gabinete de Silval Barbosa.
Rompimento
A quebra de sociedade com o sócio Filinto Muller foi ocasionada por desentendimentos relativos às dívidas feitas por Chico Lima, segundo Frederico Muller.
O empresário disse que o ex-procurador retirou valores a mais do que o combinado e que, por isso, pediu que o mesmo assumisse uma dívida de R$ 90 mil, por meio da assinatura de nota promissória.
Por sua vez, Chico Lima teria se recusado a aceitar a proposta.
"Calma, que essa resolução você sabe que não é para mim. Você sabe que todas essas operações de cheques são para outras pessoas, que estou resolvendo o problema, e você sabe quem é", teria dito o ex-procurador, conforme o depoimento do empresário.
Frederico Muller confessou que a empresa da qual era sócia lucrou R$ 15 mil com a negociação feita com o ex-procurador. Porém, segundo ele, o valor foi devolvido aos cofres públicos como parte do acordo de delação premiada.
Ele afirmou que não sabia que o serviço até então prestado ao ex-procurador configurava lavagem de dinheiro e só fez a descoberta após depor ao Ministério Público e á Delegacia Fazendária.
"Entendo que não cometi crime algum. Não sabia que este dinheiro era irregular. Nunca me beneficiei de nada disso. Infelizmente, por este dinheiro ter caído na minha conta, isso se configurou lavagem de dinheiro", disse.
Ex-sócio confirma esquema
O também delator Filinto Muller confirmou a troca dos cheques e disse que depositava os valores em contas indicadas por Chico Lima.
Segundo o empresário, alguns dos depósitos serviram não só para pagar contas particulares do ex-procurador, mas da filha dele e até da locação de um apartamento no Rio de Janeiro.
Ele relatou que um benefícios dele e de seu ex-sócio com o esquema foi terem conseguido, por intermédio de Chico Lima, um empréstimo de R$ 3 milhões junto ao Bic Banco. Na transação, Chico Lima teria recebido uma comissão de R$ 200 mil.
“Nunca vi homem pra ter tanto cartão como ele”, disse Filinto Muller sobre Chico Lima.
Filinto Muller confirmou que Chico Lima atendia aos interesses de Silval Barbosa e Pedro Nadaf e admitiu que tinha ciência de que aquele tipo de transação era crime.
O delator contou que tomava muito cuidado para o esquema não ser descoberto, destruindo documentos e trocando de computadores a cada três meses.
Todavia, de acordo com ele, o ex-procurador Chico Lima era "inconsequente" nesse aspecto, chegando até a "comprar uma Mercedez no valor de R$ 300 mil".
"Vocês não sabem o que é acordar durante três anos, às três da manhã com medo de ser preso", disse Filinto Muller, emocionado.
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