ALLAN PEREIRA E MIKHAIL FAVALESSA
Da Redação
Da órbita da Terra, um satélite consegue registrar o que não é possível na superfície do planeta - o avanço de uma cicatriz de quase nove quilômetros de extensão bem no centro da Terra Indígena Sararé, na região oeste de Mato Grosso, causado pelo avanço do garimpo ilegal.
Conforme imagens de satélite agregadas pelo Google Earth, a atividade de destruição ambiental no território indígena, com desmatamento e abertura de valas para extração de ouro ilegal, aumentou de forma significativa a partir do final de 2023.
As imagens de satélite do mostram que, até novembro de 2022, o garimpo ilegal se concentrava no centro do território em um espaço bem menor do que o atual. A partir deste período, a atividade ilegal de garimpo cresceu com força na região. Informações apuradas pelo Midiajur apontam também que a atividade ilegal de garimpo ocupa, atualmente, uma área próximada a 60 hectares.
Ao redor do garimpo, os satélites mostram estradas abertas no meio da mata para fora da terra indígena, para onde entram os equipamentos dos garimpeiros e por onde sai o ouro ilegal.
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Até agosto de 2022, o garimpo ilegal era comandado por uma família, cuja líder era a empresária Marlene de Jesus de Araújo. A Polícia Federal apontou que ela se autointitulava como a "Rainha da Sararé". Ela foi presa, no dia 9 de agosto de 2022, no âmbito da operação que levou o mesmo nome da sua alcunha.
De acordo com a PF, a família liderada por Marlene era de Rondônia e financiava a extração ilegal de ouro na Terra Indígena Sararé. A prisão serviria para desarticular a atividade ilegal no território. Contudo, os garimpeiros continuaram no local.
Depois da operação, a Força Nacional, a Polícia Federal e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) lançaram diversas operações policiais para expulsar os garimpeiros ilegais entre 2022 e 2023. Nenhuma delas conseguiu sucesso absoluto.
Em abril de 2023, o MidiaJur noticiou as ameaças de morte sofridas pelos indígenas Nambiquara, que vivem na Sararé. Caciques relataram que os garimpeiros continuaram na terra indígena e que os povos tradicionais do local foram impedidos de circular dentro do próprio território. O clima é de permanente tensão.
Google Earth/Montagem Midiajur
A reportagem do Midiajur apurou que uma nova organização criminosa, com ligações a uma facção que atua em Mato Grosso agora financia e comanda a extração ilegal de ouro.
Na última terça-feira (27), a Polícia Rodoviária Federal (PRF) prendeu dois suspeitos que levariam cerca de 100 quilos de mercúrio para abastecer o garimpo ilegal na TI Sararé, em Pontes e Lacerda.
No dia 20 de fevereiro, quatro seguranças de uma fazenda localizada ao lado da Sararé foram alvos de um ataque por homens armados com fuzis, próximo à área de garimpo ilegal na reserva indígena. Os suspeitos dispararam contra os trabalhadores e atearam fogo em um carro usado para rondas na propriedade do patrão. Ninguém foi preso.
De acordo com informações publicadas pelo jornal Folha de S. Paulo, cerca de duas mil pessos atuam todos os dias em garimpos dentro da TI Sararé. As invasões contam com restaurantes, prostíbulos, barracos e acampamentos. "Operações de fiscalização isoladas são incapazes de conter o avanço dos garimpeiros na busca por ouro", registra a reportagem do jornalista Vinicius Sassine.
A reportagem traz também que os garimpeiros da Sararé vieram de outros territórios, como o Yanomami, em Roraima, onde houve uma operação em janeiro de 2023 para impedir o avanço dos garimpeiros ilegais na terra indígena. Muitos invasores saíram desta região e foram em outras terras indígenas, como Sararé, para continuar a extração ilegal de ouro.
A TI Sararé foi uma das mais invadidas para exploração ilegal de ouro em 2023, entre as quais aconteceram “cooptação de indígenas, desestruturação das aldeias, intensificação de doenças como malária e contaminação por mercúrio, com reflexo direto na saúde de crianças, jovens e adultos”, informou o jornal, em janeiro deste ano.
A terra indígena, localizada na região oeste de Mato Grosso, foi um dos territórios considerados prioritários pelo Ministério dos Povos Indígenas (MPI) em um novo plano operacional de desintrusões de pessoas não-indígenas.
Após apresentar o plano ao Supremo Tribunal Federal, por determinação do ministro Luis Roberto Barroso, o Governo Federal precisa executar a expulsão das pessoas não indígenas em até 12 meses.
Outro lado
A reportagem do Midiajur tentou solicitar uma entrevista com o Ministério dos Povos Indígenas (MPI), mas não obtivemos retorno na demanda.
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Jairo monteiro 03/03/2024
Não vão desarticular a extração de ouro nem no sarare nem nos ianomamis nem em lugar algum por que pra limpar teriam que prender muitos policiais envolvidos na coisa .e não há nenhum interesse do governo em resolver isso .se de fato quiserem resolver já o tinham feito.mais não quer por que tem muito lucro nisso pra todo lado .essa é a minha opinião eu estive em 1990 no Rio arroz nos ianomamis lembram do Collor de Melo explodindo pista de garimpo naquela época. E a pergunta é mudou alguma coisa claro que não. Então vai continuar desse mesmo jeito e o Brasil moçada. Terra sem lei nada mais a comentar
1 comentários