LÁZARO THOR
Da Redação
Em março de 1964 o Brasil era outro. E Cuiabá também. Nos jornais do estado, havia anúncios de Kombi como um veículo moderno e barato, manchetes sobre o clássico Vovô, com Mixto e Dom Bosco ávidos pela vitória, e o assunto principal da época: política, muita política.
Tanta política que, talvez nesse ponto, Cuiabá até se parecesse com a cidade dos dias atuais, em que falar de política parece ser o passatempo preferido de muita gente. Para entender como estava a cidade ou como ela aparecia na imprensa a reportagem do Midiajur consultou jornais da época.
Na edição de 4 de março de 1964, o jornal Estado de Mato Grosso anunciava uma suposta aglomeração de comunistas em Rondonópolis e Jaciara, cidades com um enorme contingente de trabalhadores rurais.
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"Vem sendo realizado um paciente trabalho de doutrinação dos agricultores no sentido de uma sublevação e possse das terras onde trabalham ou de onde são arrendatários", diz trecho da reportagem intitulada "Comunistas se organizam no leste Matogrossense".
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Pouco tempo depois, em 13 de março, o mesmo jornal anunciava que o clima havia esquentado: 22 policiais foram chamados para impedir um levante de trabalhadores rurais que, na visão do jornal, formavam uma espécie de célula comunista.
O Estado também fazia coro às críticas que vinham de grandes cidades do sudeste ao então presidente João Goulart. Para o periódico mato-grossense, Jango tentava implementar uma ditadura no país.
O jornal era contrário a propostas como o aumento do salário mínimo. Na visão dos redatores, a medida não poderia ser adotada sem outras ações para sanar as finanças do país.
"Talvez a revolução seja um revide de brio, de um povo realmente espoliado por um governo espoliativo, mas que usa e abusa da demagogia e das pressões (pré-fabricadas) para o usufruto de resultados visando a anarquia, a desmoralização e o continuismo", escrevia o redator do Estado, conclamando pela "revolução", que resultaria dias mais tarde no golpe militar de março de 1964.
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O Estado não teria a mesma eficiência em prever o futuro como teve no artigo sobre o salário mínimo ao falar sobre os veículos que ocupariam as ruas de Cuiabá.
Um artigo publicado no jornal propõe que os carros do futuro seriam sobre esqui-vadores e alimenta a ideia de que os automóveis estavam ficando ultrapassados por conta das vibrações provocadas pelas rodas com o solo.
"Uma grande vantagem do novo propulsor terrestre será sua simplicidade e segurança, assim como a ausência de pneumáticos nos quais é consumida toda a borracha produzida no planeta", diz o artigo que refere-se a um inventor da URSS, Cristian Karpukhin. Coincidência ou não, o artigo é acompanhado na página do diário mato-grossense do anúncio de um "moderno" Fusca da montadora alemã Volkswagen.
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Após o 31 de março, dia em que foi concluído o golpe militar, o jornal Estado de Mato Grosso passou mais de uma semana sem circular.
O retorno ocorreu apenas no dia 8 de abril, aniversário de Cuiabá. Quando, por razão não revelada, o assunto política ficou em segundo plano.
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