CARLOS MADEIRO
Do UOL - Maceió
A Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização da Covid-19, ligada ao Ministério da Saúde, formou e divulgou posicionamento unânime a favor da vacinação de crianças de 5 a 11 com a vacina da Pfizer.
A decisão ocorreu durante a reunião do comitê formado por médicos e pesquisadores, na última sexta-feira (17), e desmente a fala do ministro Marcelo Queiroga de que a câmara iria se reunir apenas no dia 22 para "oferecer suas opiniões e seu documento técnico" sobre a vacinação infantil.
Também na sexta-feira, ele disse que a vacinação de crianças não seria consensual - o que a nota também desmente.
"Tendo em vista o recente parecer favorável por parte da Anvisa em relação ao pedido de autorização para aplicação da vacina desenvolvida pela fabricante Pfizer na população pediátrica entre 5 e 11 anos de idade no Brasil, a CTAI Covid-19 manifestou-se unanimemente favorável à sua incorporação na campanha nacional de vacinação, em reunião ordinária realizada no dia 17 de dezembro de 2021", informa a câmara em nota pública.
O discurso de Queiroga segue um posicionamento do presidente Jair Bolsonaro, que é contrário à vacinação de crianças e chegou a ameaçar divulgar nomes dos técnicos da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) que aprovaram o uso do imunizante da Pfizer.
A decisão de incorporar ou não a vacina infantil da Pfizer ao calendário cabe apenas ao Ministério da Saúde.
Diante da negativa inicial do ministério, o ministro Ricardo Lewandowski, do STF (Supremo Tribunal Federal), determinou na sexta-feira que o governo federal apresente em até 48 horas a complementação do PNI (Programa Nacional de Vacinação) com a inclusão de crianças.
A CÂMARA E SEU PAPEL- A câmara técnica foi instituída em 5 de agosto pelo Ministério da Saúde e dentre as suas atribuições está "realizar análise técnica e científica para propor a definição do público-alvo e estimativa de doses necessárias para a imunização."
Além disso, outras missões do órgão são "auxiliar técnica e cientificamente as decisões no tocante à segurança do cumprimento do esquema vacinal" e "elaborar manifestação técnica e científica sobre temas relacionados ao Programa Nacional de Imunizações (PNI)."
O órgão é formado por representantes de diversas entidades ligadas ao tema imunizações, como as sociedades brasileiras de Pediatria, Imunizações, Infectologia, Reumatologia e Geriatria e Gerontologia. Pesquisadores de Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), Instituto Butantan e Opas (Organização Panamericana de Saúde); além de representantes das secretarias estaduais e municipais de saúde, também participam do grupo.
Segundo o presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), Juarez Cunha, o ministério tem acolhido -pelo menos até aqui- as decisões da câmara e espera que não haja interferência política ou anti-ciência no caso da imunização de crianças.
"Em geral, o que é discutido nessa câmara é levado em consideração pelo PNI. Algumas situações acabam tendo mais dificuldade na decisão, como foi o caso do intervalo da dose de reforço, mas que acabou seguido pelo que foi definido lá", explica.
ARGUMENTOS - Entre os argumentos citados na decisão dos técnicos na sexta, além da aprovação da Anvisa, os especialistas levaram em conta que a vacina já é usada em vários países e que passou por testes e análises com ótimos resultados.
Ainda segundo os técnicos, apesar de afetar menos que adultos e idosos, crianças com covid-19 têm apresentado número alto de hospitalizações e mortes.
"Em 2020, 10.356 crianças entre 0-11 anos foram notificadas com diagnóstico de SRAG [Síndrome Respiratória Aguda Grave] por Covid-19, das quais 722 evoluíram para óbito. Em 2021, as notificações se elevaram para 12.921 ocorrências na mesma população, com 727 mortes, totalizando 23.277 casos de SRAG por Covid-19 e 1.449 mortes desde o início da epidemia", explicam.
O UOL revelou, em reportagem hoje, que entre crianças de até 9 nove anos, a Covid-19 matou mais que a soma de todas as doenças prevenidas por vacinas no país entre 2006 e 2020.
"Não há porque retardar o início da vacinação, visto que já está disponível pelo menos uma das vacinas. É um direito que as nossas crianças têm de estarem protegidas", diz Renato Kfouri, presidente do departamento de imunizações da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria).
Para ele, o risco que as crianças terão será ainda maior quando a ômicron começar a circular no Brasil.
"Ela tende a infectar os não vacinados, e desproporcionalmente vamos ver mais crianças acometidas que no passado. É hora de prevenção", completa.
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