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14.10.2017 | 11h39 A fortuna e o fracasso Quanta gente não se embriagou com milionários cargos públicos supridos pela desenfreada corrupção?
RENATO NERY
O Daniel era uma pessoa simples e afável. Ele era garimpeiro e tornou-se motorista de táxi em uma pracinha de pequena cidade onde que fui criado. Não é que o Daniel foi baforado pela fortuna. No final da década de 70 do século passado ele ganhou uma grande “bolada” na loteria esportiva, aquela da zebrinha. A sua vida foi transformada completamente. Comprou uma C-10, o mais famoso carro da época. Se “emperiquitou” todo de anéis, pulseiras e uma grossa corrente de ouro “a la Milionário e José Rico”. E não é que o Daniel ficou mais bonito! As mulheres não lhe davam trégua. Largou a esposa e dois filhos! Caiu na farra! Voltou com a esposa! Matou a esposa e foi preso! Gastou parte da “grana” com advogados. Bateu a C-010 e foi para o hospital de onde saiu manco de uma perna. Esta foi a última vez que o vi. Nunca mais tive notícias sua. Certamente que se envolveu em outras estripulias. Qual a moral desta estória que tive participação como espectador? ![]() Quantos empresários não se enriqueceram soberbamente com o butim subtraído da viúva! Quantos políticos que mandavam no mundo e hoje amargam uma sorte adversa!Será que a vida do Daniel não seria melhor se ele não tivesse sido distinguido pela sorte grande? Eu, pessoalmente, acho que teria sido melhor a sua vida se ele não tivesse sido agraciado com este presente de grego. Acho que este exemplo é ilustrativo de que nem tudo que “reluz e ouro”. Os tempos atuais estão cheios de exemplos como este. Quanta gente não se embriagou com milionários cargos públicos supridos pela desenfreada corrupção? Quantos empresários não se enriqueceram soberbamente com o butim subtraído da viúva! Quantos políticos que mandavam no mundo e hoje amargam uma sorte adversa! Grande parte de todos eles perderam os anéis e o dedos e, hoje, dividem celas nas penitenciárias. Não tinham a sorte grande? Certamente que sim! Embriagaram-se com o poder e a grana e se perderam, na euforia, a medida do senso comum e do alcance da vida. Esqueceram-se que o limite entre ao céu e o inferno é tênue e perigoso. A vida é para ser vivida, apesar de todos os percalços. Ela é única e indivisível. É preciso que isto seja referendado. E a fortuna nem sempre é um bom presente. O diabo mora nos detalhes e, as vezes, ataca através da fortuna. Não devemos só procurar a fortuna, mas, sobretudo, merecê-la. Não tenhas nada que não mereças! (Confúcio). A fortuna não é sinônimo de vida plena e pode ser indicativo de atropelo. O que devemos perseguir, sem tréguas, é a paz de espírito e uma consciência tranquila. No mais... é vaidade de vaidades...e desejos vãos..., como vaticina o Eclesiastes. RENATO GOMES NERY é advogado em Cuiabá.
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